Cintilando e Causando Frisson Academia Brasileira de Letras
Em sua busca por ascensão social, João do Rio acionou dois meios de obter status: ingressar no Instituto Rio Branco e concorrer a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). No primeiro caso, poderia circular pela nata política, social e financeira; no segundo, pelo círculo social, intelectual e político.
A tentativa de ingresso frustrada na escola de formação do Ministério das Relações Exteriores ocorreu em 1902. Correu à boca pequena que a rejeição se deu em função dos traços físicos (gordo e mulato) e a condição homossexual do autor.
A batalha para se tornar imortal foi mais prolongada e árdua, tendo durado quatro anos. Sua primeira investida ocorreu em 1906, sem sucesso. João do Rio já havia publicado alguns contos esparsos em jornais, reportagens diversas e dois livros: As religiões do Rio (1904) e O momento literário (1905). Este segundo é uma marca de esperteza e estratégia do postulante à ABL. Estimulado por Medeiros e Albuquerque e seguindo uma moda corrente na Europa – publicar entrevistas com escritores de renome sobre suas trajetórias e o momento literário em curso, constituindo um panorama das letras na virada do século –, João do Rio entrevistou 35 autores entre março e maio de 1905. Obviamente, isso não deixou de ser uma forma de autopromoção de sua candidatura, mas não chegou a fazer o efeito esperado. Uma recusa significativa de compor esse repertório de entrevistados foi a de Machado de Assis… Na eleição realizada em julho de 1906, João obteve oito votos.
A segunda tentativa de ingresso se deu em 1907. Ele tentou diretamente o apoio de Machado de Assis, que fez chegar aos ouvidos de João do Rio que sua pouca idade (25 anos) poderia fazê-lo esperar mais tempo. O escritor ainda não foi eleito neste pleito, mas aproveitou para preparar terreno futuro e ganhar a simpatia dos acadêmicos.
Apenas em 1910, em sua terceira tentativa, João do Rio obteve êxito. Com quase 29 anos, eleito com 23 votos, ele já era reconhecido e consagrado pelos registros feitos sobre o universo carioca, suas conferências, seu trânsito pelo soçaite e os laços construídos com a comunidade portuguesa. Mas a pouca idade gerou inveja e despeito em diversos escritores. O poeta satírico Emílio de Menezes foi um dos que aproveitou a ocasião para destilar seu veneno: “Na previsão de próximos calores / A Academia, que idolatra o frio, / Não podendo comprar ventiladores / Abriu as portas para o João do Rio…”.
O escritor carioca tornou-se o primeiro a tomar posse na ABL com o fardão, praxe adotada a partir de então.