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Cintilando e Causando Frisson Falecimento

Em 23 de junho, com problemas de saúde devido à obesidade, trabalhando intensamente e sob forte
pressão, política e financeira, João do Rio falece num ataque cardíaco, dentro do taxi que lhe conduzia à casa, findo o expediente no seu jornal, A Pátria.

“A notícia espalhou-se pela noite carioca como uma epidemia. (…) Mesmo os adversários não sabiam como agir. (…) Pela manhã, (…) começou a romaria de pêsames. Durante toda a sexta-feira e o sábado desfilaram milhares de pessoas
(…). Dois ex-presidentes da República, um ex-prefeito, ex-ministros de estado,
deputados e ex-deputados, jornalistas, literatos, autores teatrais, atores, cocotes, sindicalistas, rapazinhos do comércio, capoeiras retintos e espadaúdos espremidos entre pálidos diplomatas e senhoras vestidas com luxo (…). Telegramas e coroas de flores não paravam de chegar (…) Também do Senado Federal e dos governos de Portugal e da Itália. Os teatros suspenderam as sessões e boa parte do comércio fez o mesmo. (…) O enterro, às 15 horas do domingo, foi organizado com a meticulosidade de uma peça teatral ou cerimônia oficial. Todas as entidades – do carnavalesco Clube dos Fenianos ao Fluminense Football Club, do Ginástico Português ao Rancho da
Rosa Branca, da SBAT ao Real Gabinete Português de Leitura – levaram seus estandartes, e o Largo [da Carioca] refulgia de tantas cores ao vento. (…) Na rua, a banda do Centro Musical Português começou a Marcha Fúnebre de Chopin. Chovia fino, mas ninguém pareceu notar. (…) Como os motoristas de taxi
ofereceram transporte grátis até o cemitério, logo uma longa fila de automóveis formou-se em cortejo, seguidos por milhares de pedestres de todas as classes sociais. No Municipal, os cantores que faziam uma matinê do Rigoletto interromperam o espetáculo, chegando fantasiados às janelas (…) Seguindo pela Avenida Rio Branco, e antes de pegar a Beira-Mar, o cortejo deteve-se na porta da Academia Brasileira de Letras [então situada no prédio do Silogeu, construído em
1904, de esquina para o Passeio Público, onde hoje é a Av. Teixeira de Freitas], onde [vários literatos] aguardavam nas escadarias. ‘Vai, Paulo Barreto, grande brasileiro, operoso batalhador das letras pátrias!’, disse o primeiro, antes de aderir ao cortejo com seus colegas.
A caminhada até o cemitério São João Batista foi lenta e imponente. Estima-se que cerca de cem mil pessoas tenham participado.” (RODRIGUES, 2010, p. 268-270)

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