Cintilando e Causando Frisson Transformações urbanas
A cidade do Rio de Janeiro sofreu, sobretudo em seu núcleo central, intensas e profundas modificações ao longo das primeiras décadas do século XX. O objetivo era superar as mazelas advindas do período imperial e se mostrar “moderna” e “civilizada”, porém, sob a ótica do modelo adotado: a Paris ressurgida da intervenção radical de Haussmann, entre 1853-1879. Tais transformações principiam, de forma radical, no governo do prefeito (engenheiro) Pereira Passos (1902-1906, sendo presidente Rodrigues Alves) e ficaram conhecidas como “bota-abaixo”, dada a quantidade de imóveis demolidos. Milhares de trabalhadores, que já habitavam em condições precárias, ficaram sem ter para onde ir, porque a administração do Distrito Federal não cuidou de nenhum plano habitacional para quem, com a sua força de trabalho, impulsionava a economia da cidade. A transfiguração da cidade trouxe, também, alterações nos hábitos de seus ocupantes. Tudo acontecia de maneira extraordinariamente veloz, acompanhada das mudanças tecnológicas. João do Rio, com a sua aguda sensibilidade, tinha perfeita consciência do significado daquele momento singular. E sofria por não ter condições de se dedicar exclusivamente a escrever sobre aquelas mudanças todas e por não ver outros escritores com a mesma consciência: “É impossível que os escritores não vejam o grande momento que estamos atravessando, para o fixar. […] Eu não tenho tempo! Tenho notas, observações, esquemas para 40 ou 50 volumes necessários.” (in Revista da Semana, 1917 apud João Carlos Rodrigues, introdução a Vida Vertiginosa. São Paulo: Martins Fontes, 2006).