Por Luiz Morando
15 de maio de 1992 é a data formalmente considerada para origem do movimento organizado de travestis e transexuais no Brasil. Naquele dia, Jovanna Baby, Jossy Silva, Elza Lobão, Beatriz Senegal, Raquel Barbosa e Munique de Bavier se reuniram e fundaram o Grupo Astral, no Rio de Janeiro.
Em 2017, o fórum de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro reconheceu e instituiu essa data como o Dia Nacional do Orgulho de Ser Travesti e Transexual.
Mas olha como as intenções de organização de travestis, junto com homossexuais, já vinham um pouco mais de longe:
Em setembro de 1966, em Niterói, houve a tentativa de realizar o I Congresso Nacional do Terceiro Sexo. A polícia impediu.
Em março de 1968, nova iniciativa em Petrópolis, mais uma vez frustrada pela polícia.
Em maio de 1968, seria a vez de João Pessoa, na Paraíba. O ‘Diário de Pernambuco’ noticiou os preparativos para a realização de um ‘congresso de enxutos’, envolvendo travestis e homossexuais. Vejam a notícia e como a pauta do evento estava avançada.
“ESCÂNDALO CHEGA À PARAÍBA – A imprensa vem noticiando a possível realização na Paraíba de um congresso dos homossexuais, denominados “enxutos”.Acredita-se que o conclave seria em João Pessoa, mas de igual modo se acredita que a polícia, a esta altura, esteja prevenida para repelir essa monstruosa afronta a uma sociedade reconhecida como das mais recatadas da região.Os anormais, de tão audaciosos, chegaram a divulgar, pela imprensa, um temário para discussão com os seguintes itens:a) reconhecimento do 3° sexo; b) permissão para casamento e divórcio entre homossexuais; c) reivindicação de melhor tratamento por parte da sociedade; d) fundação do Clube dos Enxutos, “que deverá ter funcionamento livre, onde quer que seja implantado.”Talvez os tempos estejam mudados, mas num passado ainda recente, quando fui delegado em Natal, dei solução a esse problema com os meios que considerei necessários, debelando esse terrível mal, que jamais poderia ser oficializado num país de tradições másculas como o nosso.”
Em abril de 1972, o padre Henrique Monteiro, da Igreja Ortodoxa, preparou o I Congresso de Homossexuais do Nordeste, em Caruaru. O evento também foi impedido pela polícia.
[N.E.: …Sem falar na organização, no mesmo 1972, em Salvador, BA, de um grupo (de vida breve) para discutir as questões referentes aos homossexuais e travestis. Iniciativa da travesti (maquiadora, autora e atriz de teatro) Daniela.]