27 de janeiro, a dois dias da visibilidade trans

Por Leona Lopes dos Santos (Leona Wolf) *

     27 de janeiro, Dia Internacional da Memória da Luta contra o Holocausto. O que nos faz pensar nos inúmeros holocaustos ainda presentes. Faltam dois dias para o Dia da Visibilidade Trans, remetendo à campanha “Travesti e Respeito”, de 2004. Estes dois dias não teriam conexão se a transfobia não submetesse pessoas trans a um holocausto constante. No momento em que escrevo esta nota, os EUA estão enviando mulheres trans e travestis à exposição de todo tipo de violência sexual e transfóbica nos presídios masculinos. Vivemos operações tarântulas diárias que crescem com a expansão mundial do nazifascismo. Os crematórios da Europa se fundem aos terrenos baldios em que mais um corpo é encontrado: Laura Vermont sendo arrastada de carro pela Radial Leste, o apedrejamento de Dandara dos Santos e os corpos que perecem em Gaza. É Matheusa sendo levada ao julgamento no morro e uma reivindicação de respeito em um país que possui o maior número de assassinatos de pessoas trans. No Brasil, entre 2014 e 2024, foram 1.577 mortes. Os maiores picos ocorreram durante a escalada de 2016 a 2018 (488 mortes), período de escalada fascista entre o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff e a eleição de Jair Bolsonaro e, posteriormente, pelo abandono pandêmico de 2020, diante de um governo de negação e desumanização¹.

     Diante do avanço do fascismo genocida no mundo e sua ideologia de gênero que dizima e mata mulheres, crianças e pessoas LGBT; do racismo e da xenofobia dos movimentos anti-imigração (sendo as imigrantes grande parte das mulheres trans assassinadas na Europa e nos EUA); contemplamos campos de concentração LGBT na Chechênia², apátridas expulsos dos EUA e travestis sendo enviadas à morte pelo estado dos EUA como se portando novos triângulos rosas.

     Termino esta nota pensando que respeito é algo que vai além da garantia de um Dia da Visibilidade ou de uma marca promovendo a diversidade. Respeito é algo que aparece na campanha de 2004 do Ministério da Saúde, porque pessoas trans ainda são consideradas doentes ou populações de risco. Respeito é algo que vai além de se tornar sujeito do sistema de saúde (embora o acesso à saúde seja fundamental). É necessária uma educação que não seja excludente, punição aos insultos diretos e indiretos, garantia de igualdade no tratamento e respeito às pessoas trans, sem distinção em relação às pessoas cis. Ninguém questiona a identidade de uma pessoa cis, nem a toma como falsa, como enganação, nem a agride porque ela não deveria existir por ser cis. Antes de 2004 e ainda agora, a mesma palavra continua fazendo sentido como reivindicação. Por mais triste que seja. “RESPEITO”.

Leona Lopes dos Santos (Leona Wolf) é doutoranda em Filosofia, psicanalista, mestra em Economia Política, cientista social, especialista em Direitos Humanos, Diversidade e Violência. Conselheira do Museu Bajubá (2025-2028). Autora do livro Para além do identitário (2024).

Referências:

1. https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2025/01/27/dossie-revela-que-122-pessoas-trans-e-travestis-foram-assassinadas-no-brasil-em-2024-maioria-jovem-negra-e-pobre.ghtml

2. https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39603792

Fotografias:

1. Foto 1: Acervo pessoal de Émerson Rossi

2. Foto 3: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manifesta%C3%A7%C3%A3o_pela_Visibilidade_Trans,_Lisboa,_Mar._2022_(51973931602).jpg

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