Homenagem a Anyky Lima

Por Luiz Morando

Anyky Lima nasceu no Rio de Janeiro, filha de pais migrantes pernambucanos, em 26 de setembro de 1955. Desde muito cedo, ela não se reconhecia com o sexo e gênero atribuídos no nascimento. Isso provocou muitas reações traumáticas em casa, desencadeando em sua expulsão do lar com apenas 12 anos de idade. A partir de então ela passou a perambular pelas ruas do Rio e a se ambientar na comunidade de travestis da cidade.

Ainda adolescente, no início dos anos 1970, foi para Vitória (ES), onde trabalhou como profissional do sexo até meados dos anos 1980. Ela só retornou ao Rio aos 21 anos de idade. Porém, em 1984, instalou-se em Belo Horizonte, de onde não saiu mais.

Certa vez, Anyky relatou que o primeiro nome que ela escolheu e pelo qual passou a se apresentar foi Janaína. Mas em uma ocasião, em um chafariz de Bangu, acompanhada de outras travestis, suas amigas disseram que aquele nome não combinava com ela. E com as águas daquele chafariz ela foi batizada Anyky, em homenagem à atriz e modelo belga radicada no Brasil Annik Malvil.

Em 1994, Anyky ingressou no Grupo de Apoio e Prevenção à Aids de Minas Gerais (Gapa-MG) e atuou como monitora no projeto Previna na Prostituição ao longo de três anos. No final dos anos 90, ela ajudou a fundar a Associação de Travestis de Belo Horizonte (Astrav). A partir daí ela se engajou de fato no ativismo e na luta pelos direitos das pessoas travestis.

Ainda que a Astrav não tenha prosseguido, Anyky se tornou referência, a partir da virada para os anos 2000, da luta pelo reconhecimento de direitos e da cidadania da população de travestis em Belo Horizonte. Ela se tornou voluntária e presidente, por dois mandatos, do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos). Tornou-se também interlocutora com órgãos estatais, com o Ministério e a Defensoria Públicos. Associou-se à Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

Anyky foi inspiração e referência para muitas travestis e mulheres trans de Minas e do Brasil. Sua disposição incansável para a luta, o questionamento, as reivindicações a favor da população T foi modelo de atuação para o movimento nacional de pessoas travestis e trans. Sua história de respeito e ousadia nesse movimento levou à alteração do nome do Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Processo Transexualizador, do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), que passou a ser denominado Ambulatório Trans Anyky Lima em 2018.

Anyky Lima faleceu em Belo Horizonte (MG), no dia 14 de abril de 2021, aos 66 anos, em decorrência de um câncer de intestino.

Em 2023, foi homenageada, por meio de projeto de lei da ex-vereadora Duda Salabert, emprestando seu nome a uma rua no bairro Palmares, em Belo Horizonte.

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Luiz Morando é co-fundador do Museu Bajubá, onde exerce a vice-presidência e a coordenação da Estação Belo Horizonte.

N.e: apesar de nossos esforços, não conseguimos identificar a autoria das imagens do carrossel.  Quem puder ajudar, agradecemos. 

Na imagem dela com um vestido preto, a loura ao seu lado é Nero, cabeleireiro ainda em atuação na cidade de Belo Horizonte. 

Anyky faleceu sem deixar testamento e antes que conseguisse vender os seus dois imóveis – um apartamento em Salvador, BA e outro na Zona Oeste, no RJ. Era seu desejo construir uma casa de acolhimento para pessoas trans, o que poderia ter concretizado, caso tivesse conseguido efetuar a/s venda/s ou deixado testamento nesse sentido.

fotógrafo: Lucas Ávila
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