NOTA PÚBLICA PELA SALVAGUARDA E RESTITUIÇÃO DO CABARÉ CASANOVA: DEVOLVAM NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EXPROPRIADO!
RIO DE JANEIRO, RJ – Movimento Restitua o Nosso Patrimônio LGBTI+ reivindica a proteção e a devolução de imóvel na avenida Mem de Sá, 25, o mais antigo patrimônio histórico da comunidade LGBTI+ do Rio de Janeiro. A sede do Cabaré Casanova foi reconhecida pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual (Ceds-Rio) como patrimônio Cultural da diversidade no município, mas mesmo com denúncias e pedidos de salvaguarda, a manutenção do espaço não tem recebido atenção do poder público. Desde a retomada do imóvel pela Prefeitura, em 2015, o espaço tem sido utilizado como depósito de bebidas. A campanha visa pressionar o poder público a disponibilizar outro dos vários imóveis desocupados que possui na região e devolver à comunidade o Cabaré Casanova, o mais antigo e representativo patrimônio histórico LGBTI+. A ação tem importância especial considerando-se tratar do patrimônio mais representativo da resistência e história LGBTI+ nacional, sobretudo do segmento trans, e o imóvel fazer parte do Corredor Cultural. É preciso efetividade, em relação ao patrimônio cultural LGBTI+, diz o movimento, da linha de ação do governo do prefeito Eduardo Paes, proclamada quando da reinauguração do Museu Histórico da Cidade, reconhecendo que o caminho é investir na cultura, como “principal fator de retomada do desenvolvimento e de renascimento do Rio”. – Para nós, também fator de REPARAÇÃO.
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Nota Pública do movimento Restitua o Nosso Patrimônio LGBTI+
O CABARÉ CASANOVA funcionou na Avenida Mem de Sá, 25, Lapa, Rio de Janeiro, de 1939 a 2008. De meados dos anos de 1950 até 2008, destinou-se principalmente à população LGBTI+ e empregava em seus shows dezenas de artistas travestis, além de pessoal de apoio, constituindo-se como espaço de sociabilidade, cultura e resistência do segmento.
Por mais de quatro décadas, o CASANOVA apresentou espetáculos e consolidou carreiras de artistas como: Marquesa, Mariza/Mário Chaves, Marlene Casanova, Geórgia Bengston, Gungala, Perla, Suzy Parker, Laura de Vison, Fujika de Halliday, Safira Bengell, Eloína dos Leopardos, Ângela Leclerry, Meime dos Brilhos, Lorna Washington, Lola Montese, Sara Streisand, Sarita Montiel, Edy Star, entre outras. Na plateia, nomes como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Madame Satã, Alcione, Emílio Santiago, Chico Anísio, Jerry Adriani, Chico Buarque de Holanda…
A Secretaria Municipal de Cultura e a Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual (Ceds-Rio) reconheceram o imóvel como patrimônio cultural da diversidade, afixando placa em sua fachada em 28 de junho de 2021. Porém, nada fizeram pela sua salvaguarda, restauração, tombamento e devolução para a comunidade LGBTI+. Pelo contrário, o CASANOVA vem sofrendo com uma tradição de descaso, negligência e abandono por parte do poder público municipal.
Desde a retomada do imóvel pela Prefeitura, em 2015, o antigo sobrado passou a ser irregularmente utilizado como depósito de bebidas. Apesar de reiteradas denúncias à Ceds-Rio, nada foi feito. Mais recentemente, o espaço foi ocupado também para viabilização de uma cozinha comunitária, que oferece refeições à população em situação de rua da região.
Ao longo de 2021, foram feitas diversas tentativas para convencer o gestor da Ceds-Rio sobre as várias formas de se buscar financiamento para a restauração do imóvel e apresentadas diversas propostas de destinação para a comunidade. A cessão para outro segmento social se deu atropelando as negociações em curso, com a CEDS-RIO.
O sobrado permanece em precaríssimo estado de conservação, demandando reformas urgentes, segundo as palavras do próprio Coordenador. O letreiro histórico que existia na fachada com o nome do Casanova desapareceu. Tanto a Ceds-Rio quanto as ocupações atuais ignoram completamente seu valor enquanto patrimônio histórico LGBTI+ do Rio e do Brasil, o mais antigo e mais representativo do país de que se tem notícia.
Defendemos sua salvaguarda, por meio de sua restauração, tombamento e manutenção de seu uso histórico, como espaço da população LGBTI+. Para tanto a interlocução com o/s órgão/ competentes da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro se faz necessário. Também reivindicamos do poder público um outro espaço para que as atividades atualmente desempenhadas no imóvel possam ser exercidas, respeitando o fato de que a Lapa é um território historicamente de resistência da população e da cultura LGBTI+ e também um bairro de populações marginalizadas. Levamos em conta as necessidades dos trabalhadores ambulantes e da população em situação de rua, que cresceu ainda mais durante a pandemia, e somos solidários a essas causas. Nosso apelo é para que todos esses direitos – ao trabalho, à alimentação, à existência digna e à memória e ao patrimônio – sejam garantidos em conjunto, com apoio do poder público, sem hierarquias e sem sermos expropriados de nosso maior patrimônio histórico.
É preciso efetividade, em relação ao patrimônio cultural LGBTI+, da linha de ação do governo do prefeito Eduardo Paes, proclamada quando da reinauguração do Museu Histórico da Cidade, reconhecendo que o caminho é investir na cultura, como “principal fator de retomada do desenvolvimento e de renascimento do Rio”. Para nós, também fator de REPARAÇÃO.
Por isso o Movimento Restitua o Nosso Patrimônio LGBTI+ lança a campanha:
DEVOLVAM O NOSSO PATRIMÔNIO HISTÓRICO!
O CABARÉ CASANOVA É O NOSSO “CARROUSEL”, NOSSO “MADAME ARTHUR”,
NOSSA “RÁDIO NACIONAL” –
NÃO PERMITIREMOS QUE NOS SEJA EXPROPRIADO!
Assinam esta Nota Pública o Movimento Restitua o Nosso Patrimônio LGBTI+, integrado por Rita Colaço, Museu Bajubá, Grupo de Pesquisa Museologia Experimental e Imagem – MEI (UniRio/CNPq); Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura (ABETH); Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Cultura, Identidade e Diversidade – ODARA (IFRJ/CNPq); GADvS – Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero; Grupo Gay da Bahia (GGB); Acervo Bajubá; Diversa, Arte e Cultura (Franco Reinaudo); Archivos Memória Trans (Argentina, María Belen Correa); CLOSE – Centro de Referência da História LGBTQI+ do RS (Benito Schmidt); Archivos Memórias Diversas (México, Alonso Hernandez); AMAI – Red Latinoamericana de Archivos, Museos, Acervos e Investigadores LGTBQIA+ (pelo seu coletivo); ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Keila Simpsom); Comitê Internacional para a Museologia (ICOFOM); Centro de Referência em Direitos Humanos do Semi-Árido (CRDH-UFERSA); Centro de Memória João Antônio Mascarenhas (Márcio Caetano); Instituto Odeon; ABRAF – Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas (Toni Reis); Aliança Nacional Lgbti+ (Patrícia Esteves); Red Gaylatino (Cláudio Nascimento); Grupo Dignidade (Toni Reis); Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo; Luciana Gonçalves de Carvalho (UFOPA); Liga Brasileira de Lésbicas (LBL, Virgínia Figueiredo); Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL); Atrevida RN Associação das Travestis reencontrando a vida do RN (Jacqueline Brazil); Coletivo de Feministas Lésbicas (CFL, Marisa Fernandes); Grupo Arco-Íris (Cláudio Nascimento); Associação Ecomoda (Almir França); Centro de Convivência, Cultura e Cidadania LGBTI+ do Rio de Janeiro (Júlio Moreira); Conselho Municipal de Cultura de Rio das Ostras (pelos seus integrantes);
Pessoas físicas: Rodrigo Faour (pesquisador da MPB e da cultura LBGTI+ do RJ); Comendadora Safira Bengell (Atriz transformista e ativista cultural Teresina/PI); Lorna Washington (artista transformista); Eliseu Neto (Diversidade23); Bayard Tonelli (ex-integrante dos Dzi Croquetes); Luís Carlos de Alencar (Cineasta, produtor na Couro de Rato); João Silvério Trevisan (escritor, pesquisador pioneiro da história LGBTI+, ativista histórico); Sara Wagner York (GESDI-FFP-UERJ, Comissão de acessibilidade ANPED e pesquisadora multimídia TV Brasil 247; Yone Lindgren (ABL); Thaís Gonçalves (Marco Legal de Patrimônio, do Conselho Municipal de Cultura de Rio das Ostras); Gustavo de Souza Rodrigues (Secretaria Estadual LGBT do PT-RJ); Liana Ébano (UNEGRO RJ – Núcleo Rio das Ostras); Jackson Cavalcanti Junior Jackson Junior; Nilo Geronimo Borgna; Maria Teresa Abud Tauile (Eternamente sou); Waldilaine Paes Mattos; José Wellington de Oliveira Machado (Coordenadoria da Diversidade e Inclusão Educacional (Codin)); Luiz Fernando de Souza; Luiz Carlos Menezes; Tom Jones; Lucci Del Santos Laporta (Juntos! LGBT); Luiz Alberico Araujo Montenegro (Universidade Federal Fluminense); Tatiana Caeiro; Ruy Freitas da Silva; José Milson (Turma OK); Gerlane dos Santos Cavalcanti; Sueli Nascimento dos Santos; Luciana Drummond; Claudia Falcão (Fundação Rio das Ostras de cultura e Coletivo Vista Minha Pele); Gabrielle Toledo; Michelle Teles Devellard ( Micha Devellard – cantora, ativista social, membro do eixo música do Conselho Municipal de Cultura de Rio das Ostras e do PSOL Rio das Ostras); João Luiz Gonzalez Eduardo;
