(O uso do portunhol, nesse texto, foi uma expressão carinhosa de aproximação. Que não se molestem.)
(Atualizado em 05/06/20, 22h02)
Da participação na conferência da ALMS em Berlim, ano passado (ALMS Queering Memory Berlim 2019) tem resultado frutos afetivos e profissionais. Com a cumplicidade e o carinho usual entre os postos historicamente nas margens, nos constituímos em um pequeno grupo de latinos, com muita vontade de aproximar nossas histórias, culturas e trabalhos. Pois além da opressão por conta da orientação sexual e / ou identidade de gênero, temos também em comum o passado colonial e nossas trajetórias pessoais em prol de nossa memória, história e fontes.
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Leonardo, Rita, Alonso, Rubens e Vinícius. Faltam: Anahy, Michael e Felipe |
Desde então temos trabalhado por essa construção. Paradoxalmente, foi com o isolamento decorrente da pandemia que vimos renovado o vigor de nossa proposta.
Ela implica, acima de tudo, o desejo real de cada bloco (o de hispano platicantes e o dos falantes do portugues) mover-se um chiquito de sua comodidad linguistica, para se acercar desse Otro, tan cerca y tan lejos em termos histórico e políticos. Nessa construção, indudablemente el elemento más cerca y viguroso ha sido el muy querido Alonzo Hernándes, historiador e ativista mexicano, diretor de Archivos y Memorias Diversas e atual coordenador dos encontros semanais, El Taller de los Martes.
Mês passado ele me invitó a uma charla en el Taller de los Martes. Foi no último dia dois, abrindo o mês do Orgulho LGBTQIA+. Para mim, que tenho alguma familiaridade com o espanhol e, para Alonso, que tem familiaridade com o portugues, nos compreendemos bem. No entanto, alguns dos assistentes, não acostumados à sonoridade do portugues, relataram, depois, ter tido dificuldades na compreensão. Vocês podem conferir o resultado dessa experiência por meio desse link aqui.
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Imagem captada por Alonso, durante a entrevista virtual |
Eu espero que possamos ultrapassar essa fase de estranhamento com os idiomas e nos acercar, rompendo a histórica barreira entre nós. Afinal, se por um lado temos essa marca de afastamento, por outro temos incontáveis experiências de contatos, vínculos, parcerias, cumplicidades – de Milton Nascimento e Mercedes Sosa; Mercedes Sosa e Antônio Chrysóstomo; Néstor Perlongher e os ativistas e pesquisadores de São Paulo, a experiência exitosa do CLAM – Centro Latino-americano em Sexualidade e Direitos Humanos do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ), a experiência do Vozes Latinas, um portal de notícias sobre o protagonismo dos povos latinos no YouTube, que se comunica através do espanhol, do português e do “portunhol”, rompendo com a agenda de jornalismo da mídia corporativa, a maioria das vezes distinta dos reais interesses dos povos.
Sem falar nas redes de relações construídas entre os ativistas de nossos países, antes e depois do jornal Lampião da Esquina e do grupo Somos, cuja história ainda está por ser escrita. Aliás, o nome desse grupo, sabemos, foi uma homenagem ao movimiento gai da Argentina, tomando por empréstimo o nome de uma sua publicação.
Na convicção de que seremos capazes de vencer o muro linguístico, convido para conhecerem algumas experiências em preservação e divulgação de arquivos LGBT, abaixo.
Moléculas Malucas – Archivos y memórias fuera del orden – Argentina, 2019
Archivo Digital de la Liberación Homosexual de Colombia – Colômbia, 26 de maio de 2020
Archivos y Memorias Diversas – México, junho de 2008
Archivo de la memoria trans – Argentina,