![]() |
Acervo Bajubá |
Como já foi dito em outras ocasiões, a ideia primeira deste blog era a constituir um espaço no qual as pessoas pudessem, elas próprias, elaborar os seus depoimentos, resgatando, com isso, a memória das lutas dos movimentos LGBTs. Essa concepção se aproximava do formato do Museu da Pessoa, porém privilegiando aquelas que militaram nas primeiras fases dessas lutas, no Brasil. Isso se devia à constatação de que a segunda geração de ativistas pouco ou quase nada sabia das primeiras lutas do movimento. Foi uma ideia que me ocorreu a partir de conversas em lista de discussão do yahoo. Lista essa que congregava grande número de ativistas da segunda geração e alguns remanescentes da anterior. Queria que as próprias personagens pudessem falar de sua experiência na militância, sem outro mediador que não fosse a própria ferramenta tecnológica. Não houve receptividade, contudo. Busquei então ir recuperando algumas histórias de personagens LGBTs invisibilizados, seja dos ativismos estrito senso, seja da militância mais difusa, constituída na resistência mesma do viver cotidiano. Também digitalizei algumas de minhas fontes, sem qualquer observância (por desconhecimento) com as suas normas técnicas, porém… Assim este espaço tem existido desde 2009, com já alentado conjunto de informações, embora de forma um tanto precária, na medida em que meus compromissos outros não me permitiram transformar este espaço em um portal onde fosse possível acessar fontes, vídeos e depoimentos – o que pensei pudesse construir após o doutorado. No entanto, embora isso, posso dizer que estou realizada.
É que um pequeno coletivo de idealistas, encabeçado por dois jovens – Felipe Areda, antropólogo, da UnB, e Remom Matheus Bortolozzi, psicólogo de formação – vem já há alguns anos “garimpando” livros, revistas, jornais, discos, ingressos para espetáculos, fotografias, toda tipologia de fontes que dizem da história das manifestações artistico-culturais, da luta por reconhecimento de direitos, da sociabilidade de pessoas lésbicas, gueis, travestis e transexuais brasileiras. Agora, concomitantemente com a sua contínua ampliação, estão viabilizando a sua digitalização (obedecendo as normativas técnicas) e a posterior disponibilização na internet, ao acesso de toda e qualquer pessoa, de qualquer parte do planeta. É possível ir acompanhando suas novas aquisições através de página que eles criaram no Facebook, chamada Acervo Bajubá.
![]() |
Acervo Bajubá |
A sua seriedade, dedicação e expertise me levaram a decidir fazer-lhes a doação e a transferência ainda em vida de parte do parco conjunto de fontes que possuo. O restante será transferido post mortem, para a instituição que eles vierem a constituir – minha herdeira e legatária (não quero correr o risco de que aconteça o que vem acontecendo com o acervo de Darcy Penteado, o que aconteceu com a biblioteca de João Antônio de Souza Mascarenhas, com o acervo de Yone Lindgren, do Atobá, de Geórgia Bengston…)
Este blog permanecerá, até que eu consiga tempo para reestruturá-lo. O projeto de coleta de relatos de trajetórias de vidas de travestis (transformistas e não) em formato de vídeo, que eu já havia iniciado, darei continuidade e os vídeos integrarão esse acervo, sendo também disponibilizados para consulta universal.
De minha parte, todo o apoio que eu puder, darei, para que eles cada vez mais se estruturem, ampliem o seu acervo e o disponibilizem na internet.