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Babados da hora

Bíblia, cristianismos e homossexualidades – Quando me permito refletir

A atitude mais racional e civilizadamente indicada a ser adotada quando nos defrontamos com algum assunto, principalmente aqueles que desconhecemos, que nos causa estranhamento ou que é bastante controverso, é nos colocarmos numa posição de abertura mental que nos possibilite formular interrogações. Ou, como diz Descartes, duvidar.
Trata-se de exercício fundamental e metódico para a aquisição do conhecimento. É a segunda postulação realizada pelo filósofo, após o entendimento de que o ato de pensar lhe proporcionava a compreensão do existir – cogito, ergo sum.
Se a compreensão da existência advem do pensar, é preciso saber como pensar. De que maneira; através de quais caminhos. 
– É disso que cuida a Meditação 1ª de Descartes. Da construção da dúvida como ferramenta metódica para se buscar com segurança o conhecimento. Uma técnica para se vencer as chamadas prenoções, isto é, as conclusões que nos assomam à mente a partir de ideias e imagens formadas antes mesmo que nos permitamos conhecer o assunto ou matéria.
Nossa estrutura psíquica tende a buscar estabilidade, conforto, segurança. Nos sentimos desconfortáveis diante de coisas e assuntos que nos confrontem com nossa base, ou seja, com aquelas “verdades” que se encontram sedimentadas em nossa cultura e que incorporamos no processo de socialização. 
A forma mais comum que temos – enquanto espécie – de reagir aos fenômenos e assuntos que se apresentam em desacordo com essas idéias que foram estabelecidas ao longo do tempo e que não nos detemos para investigar as suas origens é reagir contra. É a negação, como chamam os psicanalistas.
Descartes, com o seu método, busca estabelecer um caminho seguro para vencermos essa nossa tendência. 
Através da dúvida, temos condições de construir um distanciamento em relação àquelas verdades que nos acostumamos a assimilar sem refletir, sem as por à prova; sem nos interrogar a respeito de como e, principalmente, por que foram estabelecidas. 
É um bom exercício. Além de nos auxiliar na melhor compreensão dos assuntos, problemas e fenômenos, nos treina para a recuperação da humildade – a consciência de nossas limitações, arbitrariedade cultural e extremada equivocabilidade de nossos sentidos (nossos olhos não tem capacidade de apreender todas as cores; diversas ondas sonoras nossos ouvidos não conseguem captar; nossa percepção das coisas é facilmente “contaminada” pelas nossas noções subjacentes etc.).
[…] essas antigas e comuns opiniões freqüentemente revivem em meu pensamento, a longa e familiar convivência que tiveram comigo, o que lhes dá o direito de ocupar o meu espírito sem que eu o queira e de quase se tornarem senhoras de minha crença. E nunca me desacostumarei a essa aquiescência e a confiar nelas, enquanto eu as considerar tais como efetivamente são, isto é, de certo modo duvidosas, como acabei de provar, e, no entanto, muito prováveis, de maneira que se tenha mais razão em acreditar nelas do que em negá-las. Eis por que penso que as utilizarei mais prudentemente se, tomando um partido contrário, empregar todos os esforços no sentido de enganar-me a mim mesmo, fingindo que todos esses pensamentos são falsos e imaginários; até que, tendo de tal modo avaliado meus preconceitos, eles não possam fazer com que minha opinião tenda mais para um lado do que para outro, e meu julgamento não mais seja, daqui por diante, dominado por maus usos e afastado do caminho reto que o pode conduzir ao conhecimento da verdade. Pois estou certo de que, no entanto, não pode haver perigo nem erro nesse caminho e de que eu hoje não poderia conceder muito à minha desconfiança, uma vez que, no momento, não se trata de agir, mas somente de meditar e de conhecer. […] (Veja o texto integral aqui).

Esta é a maneira segura de nos livrarmos de dogmatismos e prenoções.

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