20 de dezembro de 1921
100 Alair Gomes
O Museu Bajubá homenageia o fotógrafo Alair Gomes, que se especializou em erotismo masculino, pelo centenário de seu nascimento, em 20 de dezembro de 1921.
Alair Gomes nasceu em Valença, Rio de Janeiro, em 20 de dezembro de 1921. Graduou-se em Engenharia em 1944 e, no ano seguinte, foi nomeado engenheiro da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em 1948, renunciou ao cargo para se dedicar ao estudo e à pesquisa de Filosofia, Física, Matemática, Lógica e Biologia. Em 1958, o amigo e cientista Carlos Chagas Filho convidou-o para lecionar no Instituto de Biofísica da Universidade do Brasil, atual UFRJ. Graças à sua atuação como pesquisador e professor, foi agraciado com uma Bolsa Guggenheim de Filosofia da Ciência, tendo escolhido a Universidade de Yale, onde permaneceu de 1962 a 1963.
Data de 1954 seu primeiro Diário Erótico, uma minuciosa descrição de cada encontro amoroso, suas paixões, amores e desejos. A escritura íntima transcorreu por toda a sua vida e resultou em mais de 10.000 folhas manuscritas. A escrita de Alair Gomes era um exercício de resistência na composição de seu inventário pessoal, no entendimento de sua subjetividade e, sobretudo, de seus desejos eróticos e orientação sexual. Nesta prática, segundo Philippe Artières, tenta-se contrapor à imagem social a imagem íntima de si, com o intuito de autoconstituir-se, reafirmar a sua condição e direito de existir, bem como negar as sujeições e julgamentos impostos pela sociedade.
A paixão pela fotografia começou em 1965, quando viajou pela Europa por seis meses. De posse de uma Leica, visitou diversos museus e começou a fotografar, compulsivamente, esculturas e pinturas, dando ênfase à representação do nu masculino. Deste registro visual nasceu o Journal en Europe, com apontamentos sobre a arte europeia antiga e moderna, vista sob o prisma do erotismo.
A passagem da escrita íntima para o registro fotográfico, segundo ele, se deveu à necessidade de “fazer um registro de meus grandes envolvimentos amorosos […] e de minha inconformidade com a passagem, no tempo, do que no tempo surge e se dá como muito precioso.” Desse desejo nasceu sua primeira grande composição sequencial, realizada entre 1966 e 1977, considerada sua obra-prima, a Symphony of Erotic Icons. Dedicada totalmente ao nu masculino, ela compreende um conjunto de 1.767 fotografias, reunidas em cinco movimentos: Allegro, Andatino, Andante, Adagio e Finale. Para Gomes, a construção desse universo fotográfico almejava “transcender a sua personalidade”, criando um estado “proto-religioso”.
As composições fotográficas sequenciais pontuaram outras obras, como a série Beach, com mais de 2.000 imagens, da qual fazem parte: Sonatinas, four feet, Beach Triptychs e Friezes.



Outros conjuntos se destacam em sua obra. A série Carnaval, realizada entre 1967 e 1980, composta por 1.065 imagens, documenta a explosão da festa no Rio de Janeiro; a Glimpses of América, composta por 1.527 fotografias, apresenta o olhar do fotógrafo na tradição da street photography, em sua viagem pelos EUA nos anos 1975 e 1976. Desta série, chamam a atenção as imagens de rapazes nas praias da Califórnia, traçando um paralelo com as séries Beach Triptychs, A Window in Rio e Sonatinas, four feet.
No final da década de 70, até meados dos anos 80, Alair Gomes intensificou sua atuação no campo da crítica de arte, ministrou palestras e cursos sobre fotografia e história da arte contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, na Oficina de Escultura e Gravura do Ingá e no Museu de Arte Moderna do Rio.
Alair Gomes foi assassinado em seu apartamento em agosto de 1992.
Texto de Luciana Muniz
Visite a exposição na Biblioteca Nacional
