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Babados da hora

A Travesti …: Uma Aproximação Inicial”

Como vocês podem ver nas referências da última postagem, Alexandre Böer é ativista e foi o organizador do livro A BATALHA PELA IGUALDADE: A PROSTITUIÇÃO DE TRAVESTIS EM PORTO ALEGRE, publicação editada pela Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul, em 2003.

Esse livro é muito importante, em minha opinião. Permite vislumbrar as formas de viver de um segmento e o seu espaço sociocultural, extremamente segregados, apagados da história.

José Juvenal Gomes, Sociólogo, Assessor Técnico da Coordenação de Formação e Pesquisa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e segurança Urbana de Porto Alegre, faz a aproximação sociohistórica.

É ele quem nos diz:

“Falar das travestis neste período [séculos XIX e XX] é falar de dialogismos – a travesti e seu dulpo, a mulher fatal e diabólica. É perceber como se criaram mecanismos perversos que tentaram destruir ou disciplinar a ambas. …
O presente ensaio tentará mapear espaços onde as travestis de Porto Alegre construíram suas subjetividades, entre o final do século XIX, até o início dos anos cinquenta …

Falam pelas travestis, as ciências disciplinadoras da vida, a Medicina Legal, a Psiquiatria e a Criminologia. Fala a crônica policial dos jornais e das revistas. Fala [m] os relatórios da Polícia de Costumes, bem como os relatórios do Sistema Prisional. Mas também fala o escárnio, o deboche, a curiosidade e a atração que o senso comum tem pela travesti …
Falar sobre as travestis nos primeiros cinquenta anos do século passado é falar sobre o seu confinamento em alguns espaços. …

Aqui estabeleceram um modo de vida e uma visão de mundo peculiar, bem com[o] estratégias de sobrevivência à violência policial e da sociedade em geral.

Eram casas de cômodo, pensões, cabarés, dancings, restaurantes etc. Onde as travestis eram bailarinas, coristas, cantoras ou taxigirls (o cliente pagava por uma dança). Esses espaços são constantemente vigiados pela polícia. O que acarretou uma série de trocas entre as travestis e policiais no sentido da sobrevivência, por atentado ao pudor e desacato à autoridade. A sobrevivência das travestis estava na dependência de acordos préestabelecidos com os profissionnais da ordem e dos costumes.

Pelos idos dos anos vinte e trinta, os locais mais mencionados pela imprensa e pelos anais da Polícia dos Costumes, eram o famigerado Restaurante Pipi … Eram casas de diversão que ainda ofereciam quartos para os seus clientes. Em alguns momentos chegaram a ter pequenas orquestras com números de canto e dança. Aqui várias travestis foram presas.

Melhor destino tiveram aquelas coristas, principalmente bailarinas cubanas, ou as argentinas e cariocas, que se apresentavam juntamente com as companhias regulares no Teatro Coliseu, na Voluntários da Pátria. Por ser frequentado pelas pessoas ditas de bem, a polícia dos costumes dificilmente fazia suas batidas nesse espaço.

Em alguns momentos de sua história, foi quase exclusivamente frequentado pelas travestis. Seus bailes de carnaval mobilizavam tanto a polícia quanto à imprensa gaúcha clamando pelo seu fechamento. Seus concursos de fantasias atraiam travestis da Argentina e Rio de Janeiro. Chegou a ter uma orquestra, com vários espetáculos. … ainda está para ser contada a saga deste espaço portoalegrense.”

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