*29/03/1952 +11/01/2003
O Museu Bajubá, ainda que com atraso, rende homenagem pelos 70 anos de nascimento do talentosíssimo ator e dançarino Jorge Lafond (Jorge Luiz Souza Lima), mais conhecido pelo nome de seu personagem mais popular, Vera Verão.
Natural de Nilópolis, na Baixada Fluminense (região dormitório da mão de obra trabalhadora da Capital), filho do bombeiro hidráulico Theodoro de Souza Lima Filho e da telefonista Diamantina Nogueira Lima, negro, muito alto (1,98m), afeminado, desde cedo percebeu (e perceberam) a sua diferença.
As ações estigmatizantes, discriminatórias, não se restringiam a si, mas também atingiam aos seus familiares. Consta que uma prima o repudiou, aos dez anos de idade, porque não suportava ser alvo das humilhações na escola, por ser parente de uma bicha. Mas, segundo o próprio, Clodovil, com o seu programa televisivo, ajudou no processo de sua aceitação familiar – Lafond fazia com que sua família assistisse o costureiro, de modo a quebrar o estigma sobre os afeminados.
Se aos seis anos já se sabia gostando de homens, aos dez já trabalhava, numa oficina mecânica, durante a semana e, aos finais, com a mãe, em um parque de diversões. Procurava “compensar” a sua característica mal vista, dedicando-se com afinco aos estudos e se esforçava para cumprir as expectativas familiares.
Estudou balé clássico, dança afro e formou-se em Educação Física (Faculdade Castelo Branco) e em Teatro (Universidade do Rio de Janeiro, UniRio. Ingressou nos palcos dançando em boates da Praça Mauá, Copacabana (boates Flórida, Escandinávia, Barbarela) e Irajá (boate Kiss). Aos dezessete anos foi contratado pelo produtor e diretor Haroldo Costa, oriundo do Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias Nascimento. Com ele excursionou por dez anos, apresentando-se nos EUA e em diversos países da Europa, como bailarino.
Em 1974 passou a integrar o corpo de baile do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão. Em 1981 foi incorporado ao elenco do programa Viva o Gordo, de Jô Soares, onde fazia quadros de humor. Em 1989 participou da novela Kananga do Japão, de Tizuka Iamazaki, exibida pela TV Manchete, interpretando Madame Satã.
Também nos anos de 1980 participou de vários filmes: Rio Babilônia (1982); Bar Esperança (1983), Bete Balanço (1984), Leila Diniz (1987), Sonhei com Você (1988).
Em 1990 passa a integrar o elenco de Os Trapalhões, da TV Globo, e logo se destaca pelo humor, na interpretação do soldado Divino, primo do Soldado “98”, interpretado por Mussum.
A grande consagração veio através do personagem da bicha escrachada, criado em 1992, por Carlos Alberto da Nóbrega, no programa A Praça é Nossa, do SBT, que interpretou por toda a sua vida. Nóbrega criou o estilo do personagem e Lafond foi quem o batizou como Vera Verão.
Como Vera Verão se apresentou em teatros, como os do Sesc, de São João de Meriti , Madureira e de Campos dos Goytacazes (este no final de 1970, com A Gargalhada do Peru, levado por Sidinho Ramos, de quem ficou muito amigo e em cuja cidade tornou a se apresentar várias vezes.
Apesar de muito popular e querido do público, havia quem não gostasse de Vera Verão, por entender que seu estilo “bicha louca” atuava no reforço da estigmatização aos homossexuais, principalmente os afeminados. Em 1996 o jornal Monitor Campista, de Campos dos Goytacazes, publicou uma nota dando conta que o Grupo Gay Negro da Bahia Quimbanda Dudu, representado pelo seu presidente, o acadêmico de história Marcelo Ferreira e pelo líder comunitário soteropolitano Ozéas Santana, enviou carta de protesto ao dono do SBT, Sílvio Santos, criticando o estilo caricato do personagem. Pedia um estilo “politicamente mais correto”.
No Carnaval, invariavelmente vinha como destaque, dadas as suas características pessoais, que realçavam os personagens dos enredos que interpretava.
Aos cinquenta anos de idade, em 28 de dezembro de 2002, após suposta discriminação de parte do padre Marcelo em um programa de televisão, teve um ataque cardíaco, sendo hospitalizado. Veio a óbito em 11 de janeiro de 2003. Seu corpo foi trasladado para o Rio de Janeiro, onde foi sepultado, em 12 de janeiro, no cemitério de Irajá. Mais de cinco mil pessoas teriam acompanhado o féretro
Não tendo deixado testamento, logo após o seu falecimento, seus familiares consanguíneos passaram a buscar pelos seus bens. Três primos seus recorreram da sentença que reconheceu a conjugalidade homoafetiva entre Lafond e o seu empresário, Marcelo Mendes Pádua. Em julho deste ano (2022) Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, noticiou que o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou a sentença que havia reconhecido a união estável, reconhecendo como herdeiros os primos (Jornal Extra, 04/07/2022).
Referências:
Hemeroteca da Biblioteca Nacional
Memórias cinematográficas https://www.memoriascinematograficas.com.br/2021/01/18-anos-sem-o-irreverente-jorge-lafond.html
Gay Blog https://gay.blog.br/anais-da-historia/jorge-lafond-a-eterna-vera-verao-nos-deixou-ha-exatos-19-anos/
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