A palavra é: Maria Padilha

Capa de Luiz Díaz, para o livro de Marlyse Meyer, Maria Padilha e toda a sua quadrilha. São Paulo: Duas Cidades, 1993

Maria Padilha. Nos cultos de umbanda, ela é tida como a mais popular das pombagiras e a mais forte/poderosa. Como toda pombagira, representa um feminino belo, luxuriante, manipulador. Há quem lhe diga negra, princesa africana; há quem lhe diga branca e princesa; há quem lhe diga professora; e há, também, quem lhe diga ter poderes de realeza, sendo a mãe de Pombagira e a mulher de Lúcifer, comandando uma falange de Exus (Meyer, 1993, p. 110-115). Olga Gudolle Cacciatore (1988, p. 171) registra que, na quimbanda (umbanda que pratica “magia negra”, segundo a mesma, p. 219), Maria Padilha pertence à “falange da Linha dos Cemitérios” (sic).

Maria Padilha talvez seja o exemplo maior da “geléia geral da magia brasileira”; uma pombagira forjada na fantasia dos feitiços – pagãos, bíblicos, cabalísticos, ciganos, reelaborados pelo cristianismo da Inquisição –, “mais mirongas e mandingas africanas, nas quais o islamismo também tinha a sua parte”; verdadeira “charada cultural” (Meyer, 1993, p. 124-125, 83).

Isso porque há uma personagem histórica que talvez esteja na sua origem. Trata-se de Doña Maria de Padilla, amante do rei D. Pedro I, de Castela (nascido em 1334, em Burgos, filho de D. Afonso XI e de D. Maria de Portugal; casado com a princesa Branca de Bourbon, sobrinha do Rei da França). Maria e Pedro viveram uma paixão tórrida, gerando muitos filhos espúrios, em meio a um reinado marcado por fratricídios, traições e regicídio. Tão seduzido o Rei, tão influente Maria, espalhou-se logo a fofoca de que ela o enfeitiçara, sendo convertida em símbolo máximo da sedução e magia. Daí a tornar-se uma entidade, foi um pulo – aquela que os desejos amorosos realiza, submetendo vontades ao seu capricho. Tornada nessa feiticeira, ocupou a poesia de romances ibéricos a conjuros e sortilégios registrados em processos da Inquisição; inspirou personagem de romance, na França, e de óperas, na França e na Itália (encenada também no Rio de Janeiro, em 1856); andou por Angola e terminou vindo parar no Brasil, em Recife. Aqui, acrescida das influências africanas, teria se disseminado pelos terreiros de umbanda, tornando-se essa exu sensual, libertina e libertária, altiva e dominadora, temida e reverenciada, amante das ruas, cabarés e encruzilhadas, mas sem a sua medieval quadrilha. Para Ronaldo Rego (2021, p. 236), contudo, “não existem provas de que uma seja a outra”.

Referências

CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de Cultos Afro-brasileiros. Rio de Janeiro: Forense, 3a. edição revista, 1988, 264p.

MEYER, Marlyse. Maria Padilha e toda a sua quadrilha: de amante de um rei de Castela a Pomba-Gira de Umbanda. São Paulo: Duas Cidades, 1993. 171p.

REGO, Ronaldo. Dicionário das religiões afro-brasileiras. Tomo I. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2021. 496p.

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