A palavra é: Pombagira

P. 79, livro de Marlyse Meyer, Maria Padilha e toda a sua quadrilha. São Paulo: Duas Cidades, 1993.

Pombagira (do banto). S. (linguagem falada nos terreiros). Entidade de culto no rito congo-angola e umbanda, equivalente a Exu, em sua versão feminina. Feminino aqui enquanto produto da aculturação, pois, originalmente Exu, assim como todos os demais orixás africanos, segundo Raul Lody (apud Meyer, p. 99), apresentam uma bissexualidade que lhes é originária – não partilhando, portanto, da mesma concepção binária e opositora dos gêneros que estrutura a cultura judaico-cristã.

Guardiã dos caminhos e das encruzilhadas, influencia nas questões amorosas, principalmente nos conflitos e rupturas. Tida como protetora das prostitutas, caracteriza-se por um feminino sedutor, branco, de cabelos compridos. É “a síntese social da mulher que, por excelência, se rebela aos padrões e normas convencionais”; é “a mulher bacante, poderosa e sabedora da magia. Ora é uma espanhola, ora uma cigana, ora uma dançarina (dos cabarés) da Praça Mauá, ora uma mulher da zona do baixo meretrício. (…) Não tem limites éticos e morais” (Lody, Meyer, p. 99).

Variações: bambojira, bombojira, pombajira, bombogira (Yeda Castro, 2022, p. 492; 2001, p. 317). Segundo Ronaldo Rego (2021, p. 313), pombagira seria corruptela de Exu Bongbogirá de Angola; e, na “umbanda esotérica”, seria o demônio Klepoth, dos hebreus. Nei Lopes (2003, p. 177) registra o termo como originário do quimbundo pambuanjila (citando MATA, J. D. Cordeiro da. Ensaio de dicionário kimbundo-portuguez. Lisboa: Casa Editora Antonio Maria Pereira, 1893), formado por pambu a njîla (citando RIBAS, Oscar. Misoso: Literatura tradicional angolana. v. 1. 3. ed. Luanda, 1979), que significa cruzamento (mpambu) de caminhos e estradas (njila) (Lopes, 2003, p. 177, 258 e 259). Nomes: Canjira-Mucongo, Ganga, Impambo, Intoto, Jiravamambo, Macambila, Malulu, Maromba, Mavambo, Mulambinho, Quirizã, Unjira, Unjiramavambo (Yeda Castro, 2001, p. 167). Nomes no Brasil: Pombagira Rainha, Maria Padilha, Maria Molambo, Sete Saias, Pombagira da Calunga, Pombagira Cigana, Pombagira das Almas, Pombagira Dama da Noite, Pombagira Menina, Pombagira da Praia, Pombagira Maria Quitérias, Pombagira Mirongueira, Pombagira do Cruzeiro, das Encruzilhadas, Pombagira Malandra etc. (Figueiredo, 1983 apud Lopes, 2003, p. 177; Rego, 2021, p. 313).

Referências

FIGUEIREDO, Napoleão. Banhos de cheiro, ariachés & amacis. Cadernos de Folclore, n. 33. Rio de Janeiro: Funarte/Instituto Nacional do Folclore, 1983.

LODY, Raul. Sete temas da mítica afro-brasileira. Rio de Janeiro: Altiva, 1982.

LOPES, Nei. Novo dicionário Banto do Brasil – contendo mais de 250 propostas etimológicas acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. 260p.

MEYER, Marlyse. Maria Padilha e toda a sua quadrilha: de amante de um rei de Castela a Pomba-Gira de Umbanda. São Paulo: Duas Cidades, 1993. 171p.

REGO, Ronaldo. Dicionário das religiões afro-brasileiras. Tomo I. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 2021. 496p.

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