A Turma OK faz 64 anos. Fundada em 13 de janeiro de 1961, a TOK é considerada um dos grupos formados por pessoas dissidentes de gênero e sexualidade mais longevos ainda em funcionamento. A história da TOK se deu em meio a um contexto de Ditadura Militar, quando um conjunto de amigos que se reunia em um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, começou a realizar esses encontros de forma sistemática. Nas reuniões, eram lidos jornais sobre temas variados, e ocorriam brincadeiras como “salada mista” e “jogo da verdade”. A bebida mais usual era a Cuba Libre. Havia ainda pequenas apresentações, nas quais homens “vestidos do outro sexo” exibiam roupas faustosas e faziam dublagens de importantes cantoras do momento, sobretudo as Cantoras do Rádio. Essas apresentações eram aplaudidas com o estalar dos dedos, em função do receio de serem descobertos pelos vizinhos e denunciados às instituições responsáveis pela repressão no período da ditadura.

      Ao longo do tempo, os apartamentos ficaram pequenos para receber o número crescente de amigos que iam às reuniões. Na década de 1980, veio a primeira sede própria, no bairro da Lapa, Centro do Rio de Janeiro. O casarão que era conhecido como “Sobradão das Artes” e que servia de ateliê a José Antônio Santa Rosa, sócio da Turma, foi o espaço escolhido para esse fim. Localizava-se na Rua do Rezende, 43. A nova sede assistiria a uma agenda diversificada de reuniões, festas, shows de dublagem e os famosos concursos, responsáveis por tornar a Turma OK um espaço privilegiado para a arte transformista.

      A sociabilidade desse grupo perdurou por momentos nebulosos, como os anos de chumbo da ditadura e, os não menos cinzentos, anos de chumbo da aids. Essa sociabilidade foi, certamente, uma importante dimensão por meio da qual as pessoas desse grupo começaram a construir laços afetivos tão intensos e longevos. Os encontros em casas de amigos, as festas, os concursos e outros momentos de congraçamento foram, aos poucos, estruturando relações mais densas, que puderam progressivamente se converter em relações familiares. É essa lealdade familiar que anima as relações da TOK ainda hoje. Parabéns e obrigado por tanto, Turma OK!

Veja também a primeira homenagem do Museu Bajubá a Turma Ok aqui: https://encurtador.com.br/kiAq4

Veja também a homenagem a Anuah Farah: https://encurtador.com.br/6MiHR

*Thiago Soliva é antropólogo, professor universitário, conselheiro do Museu Bajubá, coordenador adjunto da estação Rio de Janeiro (nesta gestão do museu) e presidente eleito da gestão 2025-2028.