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Cintilando e Causando Frisson Produção literária

João do Rio (1881-1921) teve uma trajetória literária bastante diversificada: escreveu contos, crônicas, romances, peças teatrais e ensaios de crítica, além de ter atuado como jornalista e promotor de ações culturais.

O autor iniciou sua carreira literária com 18 anos ao publicar no Jornal da Cidade do Rio, em 16 de agosto de 1899, o conto “Impotência”, no qual representa um personagem idoso que rememora sua vida e sua atração homoerótica por um amigo. Para uma pessoa que virá a ser estigmatizada por ser homossexual, afeminado, gordo e mulato (para o padrão e a mentalidade da época), essa estreia era o prenúncio de uma vida inquieta e polêmica.

João do Rio parece nunca ter disfarçado seu desejo de ascensão social ao mesmo tempo em que dedicou à cidade do Rio de Janeiro um olhar atento, amoroso e sensível às suas mudanças. Esses dois alvos se mesclam e se manifestam em sua intensa produção literária.

De um lado, obras como As religiões do Rio (1904), A alma encantadora das ruas (1908), Psicologia urbana (1911), Vida vertiginosa (1911) e Pall-Mall Rio (1917) ajudam a verificar seu olhar perscrutador sobre os traços, sinais e marcas que se manifestam no Rio de Janeiro ao longo de seu processo de modernização para atender aos desejos da burguesia capitalizada do momento. Interessam ao autor não apenas as mudanças dos hábitos e costumes socioculturais da elite, mas também as transformações geográficas e as expansões do traçado urbano, alterando a vida e a leitura que se faz da cidade.

Por outro lado, títulos como Dentro da noite (1910), A profissão de Jacques Pedreira (1911), A bela madame Vargas (1912), Eva (1915), A correspondência de uma estação de cura (1918), A mulher e os espelhos (1919) e Rosário da ilusão… (1921) demarcam sua aproximação, por meio da elaboração ficcional, da sua experiência estética pelos deslocamentos urbanos e suas relações sociais com a elite.

Na obra de João do Rio, um caldo rico e variado se compõe e forma, fazendo interagir a vida e os conflitos íntimos dos personagens com as mutações sociais e urbanas de uma metrópole que, tal como seu escritor, busca uma face que melhor a represente.