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Miss Travesti Eixo 4 - Tentativas frustradas de concursos Miss Travesti em Belo Horizonte

Tentativas frustradas de concursos Miss Travesti em Belo Horizonte –

As práticas de montação foram muito importantes para consolidar uma cultura do ‘travesti artístico’, do que habitualmente se dizia ‘fazer o travesti’. Nesse sentido, o emprego de determinados atributos na composição das personas artísticas se tornou requisito mínimo para obter sucesso e reconhecimento: o glamour, o requinte, a elegância; andar e vestir-se “bem à feminina”; conhecer técnicas de improvisação e saber interagir com o público; homenagens às divas da música, do teatro e do cinema – enfim, uma emulação que leva à ambiguidade, ao jogo, ao engano, ao estímulo à curiosidade, a mesmo tempo que exaltava a exuberância e o exagero.
Por diversos fatores, o Rio de Janeiro se tornou o núcleo central desse processo cultural. No entanto, outras cidades de diversos pontos do país desenvolveram suas práticas de montação desde a segunda metade da década de 1950. Foi o caso de Belo Horizonte: diversas notícias da imprensa a partir de 1957 comprovam que um resultado das operações policiais de ‘saneamento’ urbano foi expor as tentativas frustradas, pela própria polícia, de realização de eventos de socialização de homossexuais que se travestiam. Desde 1959, há notícias claras de iniciativas voltadas para a realização de desfiles e concursos de travestis e seu consequente impedimento pelas forças de Segurança Pública.
Houve um processo constantemente tensionado entre os dissidentes de sexo e gênero e a polícia: de um lado, os e as responsáveis pela organização dos eventos tentam realizá-los clandestinamente, sem divulgação pública; por outro lado, a polícia sempre acaba descobrindo essas intenções, frustrando-as e ameaçando de detenção seus participantes. Essa tensão crescerá ao longo da primeira metade dos anos 1960.