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Babados da hora

atos, caminhadas, passeatas, manifestação

(Atualização 14/08/2020, 21h28)

Em diversas oportunidades tenho falado da inestimável perda que foi a eliminação de todo o acervo de discussões entre a imensa maioria de pessoas “LGBT” envolvidas no ativismo (militantes históricos, ativistas de ongs, de partidos políticos, autônomos e interessados) no Brasil, que foi a Lista GLS do Yahoo, durante a primeira década dos anos 2000 e avançando pela segunda.

Ali estava documentado discussões importantíssimas, seja sobre as memórias do Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) e do Movimento GLBT, seja sobre as formas do ativismo partidarizado e onguista da época, seja sobre a pauta política desse movimento. Infelizmente, com um simples toque no teclado, tudo foi perdido. 
Desconheço se algum/a de seus integrantes tenha tido a sensibilidade de salvar o histórico ao menos de parte delas. Mas seria bastante relevante, penso eu, para os pesquisadores empenhados na reconstituição dessa parte de nossa história, se alguém tiver, ainda que sejam poucas. Quem sabe seria possível reconstituir, ainda que fragmentáriamente?
Pois revisitando antigos pen drivers eis que encontro algumas. A questão de trazê-las para cá é problemática, na medida em que são textos de autoria diversa, escritos em contexto privado, na medida em que apenas tinha acesso às mensagens quem estivesse inscrito na lista.  
Até que eu encontre uma forma ética de resolver essa questão, tomo a liberdade de trazer a contribuição de Virgínia Figueiredo, em 03 de julho de 2004, no contexto de uma discussão sobre o protagonismo da “primeira” parada. Procurarei fazer com que a Virgínia tenha ciência de que eu publiquei o seu texto aqui. Caso ela deseje, o retirarei.

oi talvez estejamos confundindo um pouco atos, caminhadas, passeatas, manifestação, houve uma tentativa em 93 e ficou conhecida como o grupo dos 18 no Rio, já relatado pelo NOSS; em 95 a de Curitiba foi no começo do ano pela fundação da ABGLT, mas a 1ª do orgulho do 28 de junho GLBT foi em 6/95 no Rio no final da ILGA, e daí a 2ª em 1996 e estamos na 9ª, em SP em 1997 e estamos na 8ª. Nos outros estados como já citado aqui Goias, SP, etc,  já houveram outras caminhadas, mas não referentes a esta data e ao mes de junho. Inclusive em 1978 a atriz Ruth Escobar, feminista na época filiada ao MDB e outras mulheres, lésbicas, gays e travestis fizeram uma grande caminhada-manifestação pelas ruas de SP, contra o preconceito, a violencia e pela liberdade sexual.

Em 1986 Herbert Daniel do PT (que fundou o Pela Vida RJ), na campanha do PT-PV para o candidato Fernando Gabeira a governo do RJ, tambem fez uma caminhada por conta dos rumores maldosas sobre a sunga de croche de Gabeira em Ipanema, e uma das frases era que Gabeira iria governar com a cabeça e não com a bunda, e a sexualidade dele era um problema dele. Apenas fatos para contribuir e ajudar a montar nossa história. virginia figueiredo

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Hoje, 14/08/20, Virgínia fez um adendo a respeito do tema caminhadasmarchas e paradas do movimento (década de 1990), sobre o qual ainda pairam muitas controvérsias – fato comum em movimentos sociais. São as suas memórias. Aquilo que ela se recorda. Não há, portanto, qualquer interesse em disputar verdades. Apenas trazer um relato, u’a memória, para ser cotejada juntamente com as demais, no intuito de colaborar para a construção dessa história. 
Há imprecisão, no interior dos movimentos, no uso dos termos “caminhada”, “marcha”, “parada”. Também aqui não é nosso interesse elucidar ou contestar essa imprecisão e disputas. 

A primeira Parada de São Paulo foi em 1997, mas não do Brasil. Do Brasil foi no Rio de Janeiro [, em 1996]. Em 1995 a gente fez essa Caminhada, por conta da ILGA [17ª  Conferência internacional da International Lesbian and Gay Association]


Em 1996 foi a [Primeira] Parada, [dita como a] oficial. Entre os ativistas do Rio de Janeiro não se costuma contar a caminhada que se seguiu ao encerramento da Conferência da ILGA como Parada, embora a sua representatividade e relativamente grande participação; ela é referida usualmente como Caminhada. Após o encerramento da conferência da ILGA, saímos todos do hotel, em Copacabana, e fomos para a rua. E os outros movimentos [de outros estados e internacionais] que estavam participando da ILGA souberam que a gente ia fazer esse ato final e se somaram conosco.  Chegamos a colocar na rua aproximadamente umas mil pessoas…


Em 1996, em São Paulo, teve também a Marcha [paulista]. Nós saímos do Encontro Nacional GLBT, realizado no Hotel San Rafael, no Largo do Arouche, atravessamos, caminhamos e fomos parar… Não lembro se na Câmara de Vereadores ou na Assembleia Legislativa… [Virgínia localizou u’a matéria que esclarece ter sido na Praça Roosevelt. Veja aqui]. Onde fizemos uma manifestação, para marcar o evento; o que estávamos fazendo ali… Porque o poder público não deu nenhuma atenção.– Foi uma grande caminhada! Lógico, um número [de participantes] bem menor do que foi no encerramento da ILGA, aqui [no Rio de Janeiro. Principalmente porque no Rio se seguiu a um evento internacional, com um número bem maior de participantes]. Aí, depois dessa primeira caminhada em São Paulo, em 1997 teve a primeira Parada Gay ]de São Paulo].

Então, a primeira Parada, foi no Rio de Janeiro, em 1996.
Nos outros lugares teve Caminhada… Por exemplo, em Curitiba, assim que foi fundada a ABGLT, em 1993, o povo saiu pelas ruas caminhando. Com bandeiras, com isso e aquilo… Nada organizado, sem trio elétrico… Como foi a primeira Caminhada daqui do Rio [1995, final da ILGA] e em São Paulo [1996, final do EBHO].”

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