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DARCY PENTEADO: Mais Notícias

Agradeço publicamente ao envio que me fez o professor e ativista pioneiro Luiz Mott, da matéria sobre Darcy Penteado, publicada em 27/03/2011 na edição impressa do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, São Paulo, e disponibilizada tambem na internet. Confira:

Artista idealizou 1º jornal para homossexuais

“Lampião da Esquina”, que parou de circular há exatos 30 anos, fez história em plena Ditadura Militar
Notícia publicada na edição de 27/03/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 002 do caderno C – o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
 Maíra Fernandes
Em plena ditadura militar no Brasil, no fim da década de 70, quando a censura agia contra qualquer movimentação que entendesse como transgressora ou oponente ao regime e às ordens impostas, um grupo de amigos fundou aquele que viria a ser o primeiro jornal especificamente voltado a lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e simpatizantes (LGBTS), o “Lampião da Esquina”, que há exatos 30 anos parou de circular. 
Darcy Penteado, homossexual assumido e detentor do título de primeiro intelectual brasileiro a defender publicamente a bandeira da luta contra o preconceito e a discriminação dos homossexuais, foi um dos idealizadores e colaboradores do periódico lançado em abril de 1978, que trazia em seu número 0 um grande ensaio do artista, chamado “Homo eroticus”. Nele, o artista se intitulava ainda como criador da arte erótica-homossexual no Brasil.
Quanto à proposta do jornal, fica explícito no texto que se trata de uma ferramenta que poderia ajudar a desmarginalizar o homossexual, ou como dizem, tirá-los do “gueto”. “Nossa resposta, no entanto, é esta: é preciso dizer não ao gueto e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem padrão que se faz do homossexual, segundo o qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual como uma espécie de maldição que é dada aos ademanes (trejeitos) e que sempre esbarra em qualquer tentativa de se realizar mais amplamente enquanto ser humano, neste fator capital: seu sexo não é aquele que desejaria ter…”, responde o parágrafo assinado pelo Conselho Editorial do jornal.

Contestação irreverente

Nas páginas, é possível verificar um vocabulário peculiar e uma preocupação com a valorização da língua portuguesa. Em alguns números, a palavra americana gay é escrita “guei”. 

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, e David Harrad, do Grupo Dignidade, em Curitiba, onde estão os únicos exemplares do “Lampião da Esquina” (não há exemplares nem no museu de Darcy Penteado) [ver nota ao final], o jornal começou a ser veiculado em meio ao surgimento do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) no Brasil, concomitantemente com os primeiros grupos organizados em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Ele surgiu como uma contestação irreverente ao regime militar e para promover o debate político acerca dos direitos da população LGBT, além de trazer informações. Segundo João Antônio (colaborador), o jornal parou de circular porque houve desentendimentos entre os colaboradores e por causa do custo da impressão”, conta Harrad (veja entrevista nesta página).

Movimentos de minorias

Ao todo foram 37 edições oficiais mais as edições extras. Apesar do modo irreverente que pautavam as notícias e nomeavam as colunas – por exemplo, classificados chamava-se troca-troca – assuntos como sadomasoquismo, masturbação, nu frontal, pegação, encontros e Carnaval gay foram abordados e se criticou a maneira “pudica” com que a sociedade encarava esses temas. A questão da relação da igreja com os homossexuais foi levantada e outras minorias como os negros e as mulheres tiveram espaço na publicação. 


Para o professor e pesquisador do Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso), Maurício Reinaldo Gonçalves (ver matéria na página C3), nessa época era comum que os movimentos de minorias dialogassem entre si. “Acredito que essa conjunção tenha sido mais circunstancial do que uma tendência. No caso do “Lampião” (que é bastante conhecido por aqueles que acompanham a história da comunidade GLBT no Brasil) não podemos esquecer tratar-se do período da ditadura militar quando as reivindicações de liberdade e respeito aos direitos civis tinham pouco espaço e que, portanto, esses espaços alternativos, quando surgiam, podiam se transformar no espaço de luta de vários grupos sociais vítimas da opressão e da falta de liberdade e direitos impostas pelo regime e pela sociedade conservadora”, explica.

Represálias

Na edição de agosto de 1979, na qual o ativista da causa negra, Abdias do Nascimento, é capa, consta relato de uma intimação que o jornal recebeu do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) sob o título “pra que tanto medo?”. O artigo ilustra bem o momento político e a pressão sofrida pela imprensa, tanto a chamada “grande imprensa” como a denominada “nanica”, no caso do “Lampião da Esquina”, que hoje encontra-se disponível para pesquisa no site do grupo Dignidade (www.grupodignidade.org.br), que mantém os exemplares originais. 


No museu Darcy Penteado não há nenhum exemplar do jornal mas a administração manifestou desejo de cuidar da obra impressa que teve Penteado como importante colaborador, além de outros nomes como Aguinaldo Silva, o escritor Caio Fernando Abreu, Gasparino da Matta, João Silvério Trevisan, o poeta Wilson Bueno e Peter Fry.
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Nota da autora deste blog: É possível encontrar a coleção impressa do jornal Lampião da Esquina  pelo menos no Arquivo Edgar Leuenroth, na Unicamp, Campinas, SP; e na ABIA/RJ . Na internet, como divulgado na matéria acima transcrita, pode-se consultar toda a coleção digitalizada através do sítio do Centro de Documentação Professor Doutor Luiz Mott, parte integrante da página do Grupo Dignidade.
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