A história do último casamento relatado na série Casamentos dissidentes só foi possível ser conhecida por meio de algumas reportagens em maio de 1981. Uma questão familiar envolvendo partilha de herança revelou para o público a história de José e Terezinha em Montes Claros, uma cidade no norte de Minas Gerais.

José nasceu em 11 de fevereiro de 1930, em Santa Rosa de Lima, na zona rural de Montes Claros, filho de fazendeiro de muitas posses. No entanto, José nunca havia reconhecido o nome e o sexo que lhe fora atribuído no momento do nascimento. Ele viveu diversos embates com Galdino Durães, seu pai, ao longo do tempo. Um deles ocorreu quando José se registrou com esse nome em um cartório de Miralta, outro distrito de Montes Claros. Com a relação familiar muito fragilizada, Galdino entendeu que o filho “precisava de uma companhia para viver em paz”. Assim, ele aceitou o casamento de José com Terezinha, de 19 anos, que se realizou em 7 de outubro de 1971.

O contrato matrimonial ocorreu em regime de comunhão de bens. Porém, Galdino preparou seu testamento no qual relatou a situação de José e incluiu uma cláusula de indisponibilidade e impenhorabilidade da herança de José com relação a Terezinha.

A situação familiar se agravou com a gravidez de Terezinha e o nascimento de um seu filho em 1975. Em uma carta a uma amiga, interceptada pela família Durães, Terezinha relata que o filho fora concebido com um pedreiro. Em razão disso, em 1979, Galdino pediu a declaração de nulidade do casamento de José a um juiz de Montes Claros. A ação tramitou durante dois anos, até que, em 1981, o juiz Tibagy Sales Oliveira anulou o casamento de José e Terezinha.

Enfim, por um motivo meramente financeiro, a vida conjunta de José e Terezinha foi interrompida.

*Luiz Morando é co-fundador do Museu Bajubá, onde exerce a vice-presidência e a coordenação da Estação Belo Horizonte.