Por que será que na cidade do Rio de Janeiro nenhum dos brilhantes e criativos homossexuais e travestis que viveram aqui e daqui contribuíram para a cultura nacional, mereceu ser rememorado e homenageado (não pela sua homossexualidade, mas pela contribuição à cultura) com um busto em espaço público?
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Monumento erguido pelo Prefeito Eduardo Paes esquina da Rua Sete de Setembro com a Av. Rio Branco |
Temos instaladas recentemente na cidade, estátuas de Carlos Drumond de Andrade, Millor Fernandes, Noel Rosa… Um grupo de apaixonados pelo escritor Lima Barreto (da Casa de Lima Barreto) conseguiu mandar confeccionar o busto do escritor e o afixaram na rua do Lavradio. Na mesma rua o grupo do Polo Rio Antigo, liderado pelo dono do restaurante Rio Scenarium, Santo Cenário, Mangue Seco e outros, na mesma rua, instalou, na “praça” Emilinha Borba, o busto do Marquês de Lavradio, que ninguém hoje sabe quem foi. Isso sem falar das estátuas e bustos erguidos pela própria Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.
O governo Brizola, o primeiro eleito após a redemocratização, teve a coragem e a sensibilidade para erguer um monumento a Zumbi. Mas homenagear cidadãos cariocas que, gays, les ou trans, contribuíram para a cultura dessa cidade e país, quem?
Se por um lado a população LGBT, na cidade e no país, ainda não foi capaz de construir alianças entre os diversos integrantes do segmento, com vistas ao reconhecimento e à visibilidade de sua contribuição para a cultura nacional, por outro, o gestor da CEDS-RIO, com o seu incrível capital político e simbólico, até o momento não fez nenhum movimento no sentido de articular o poder público e a coletividade LGBT, para que a justiça seja feita.
Reconhecer a contribuição de lésbicas, gays e transexuais para a cultura carioca e nacional é uma dívida histórica para com essa parcela da população, ainda vitimizada pelos cruéis e variados processos de estigmatização. (Veja-se o mais recente caso de ódio, contra a travesti Verônica Bolina.)