Como já foi dito em outras ocasiões, a ideia primeira deste blog era a constituir um espaço no qual as pessoas pudessem, elas próprias, elaborar os seus depoimentos, resgatando, com isso, a memória das lutas dos movimentos LGBTs.
Essa concepção se aproximava do formato do Museu da Pessoa, porém privilegiando aquelas que militaram nas primeiras fases dessas lutas, no Brasil. Isso se devia à constatação de que muitas pessoas da segunda geração de ativistas pouco ou quase nada sabiam das primeiras lutas do movimento.
Foi uma ideia que me ocorreu a partir de conversas em lista de discussão do yahoo. Lista essa que congregava grande número de ativistas da segunda geração e alguns remanescentes da anterior.
Buscava, como dito, privilegiar o relato em primeira pessoa; que as próprias personagens pudessem, elas próprias falar de sua experiência na militância, sem mediadores (sem alguém que as entrevistasse).
Essa proposta inicial não prosperou. Busquei então ir recuperando algumas histórias de personagens LGBTs, seja dos ativismos estrito senso, seja da militância mais difusa, constituída na resistência do viver cotidiano, digitalizando algumas fontes…
Assim este espaço tem existido desde 2009, com já alentado acervo, embora de forma um tanto precária. Meus compromissos outros até aqui ainda não me permitiram transformar este espaço em um portal onde seja possível acessar fontes, vídeos e depoimentos.
No entanto, uma alegria: por meio do professor e pesquisador João Góis, do Núcleo Transciplinar em Estudos de Gênero (NUTEG), da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense e com a colaboração do museólogo e historiador Lenon Braga, foi possível dar início a uma proposta que, em certo sentido, contempla parte desses anseios: A criação de um Núcleo de Memória LGBT – um acervo de fundos arquivísticos, documentais, iconográficos e audiovisuais, de pessoas e ativistas LGBT.
Por meio da cessão do acervo pessoal da atriz trans Cláudia Celeste, cuja presença nos palcos nacionais e internacionais remonta os anos setenta do século passado, em parceria com o seu companheiro e também ator Paulo Wagner, foi dado início a implementação desse projeto, que contou também com o acolhimento por parte da Coordenação do Programa de Estudos Pós Graduados em Política Social, na pessoa da professora doutora Rita Freitas.
Além do acervo de Cláudia Celeste, que integra o fundo das artistas travestis e transexuais, em fase de constituição, paralelamente também está sendo constituído o fundo de ativistas trans anti HIV/aids, com a coleta de depoimentos em vídeo já iniciada, através dos depoimentos de Anyky Lima e Sissy Kelli, residentes em Belo Horizonte, MG.
Ambos os fundos referem-se a personagens cuja faixa etária seja acima dos cinquenta anos de idade.
A proposta é a recuperação e socialização dessas histórias de vida, devolvendo-as ao segmento LGBT, mas também à sociedade em geral e aos pesquisadores.
Às pessoas interessadas em também doar os seus acervos e relatos, basta enviar mensagem para o email concretopensado@yahoo.com.br.