
Estou falando de Osvaldo Nunes.Um negro que não era bonito ou “bem apessoado”, segundo o padrão hegemônico, mas dotado de um carisma invejável. Impossível ouvir suas interpretações e depois esquecê-lo. Eu, como tantas pessoas de minha geração e das anteriores, embora nunca tivesse sido apaixonada por samba e seu universo, tinha enorme simpatia por esse artista de estilo peculiar.
É preciso frisar que ele era o autor da maioria delas.
Oba, de 1962, acabou virando o hino do Bloco
“Nessa onda que eu vou / nessa onda ia ia / é o Bafo da Onça / que acabou de chegar / Olha a rapaziada / Oba / vem dizendo no pé / Oba / As cabrochas gingando / e como tem mulher / todo mundo presente / olha a empolgação / Esse é o Bafo da Onça /que eu trago guardado no meu coração / é o bom, é o bom, é o bom”
Segura este samba Ogunhê, de 1969
“Segura este samba, não deixa cair / O samba é duro e estou aí / Ogunhê, ogunhê / Oi, segura este samba, não deixa cair / O samba é duro e estou aí / Ogunhê, ogunhê // … // E diz no pé, sapateia crioulo / bamboleia as cadeiras, mulata / diz no pé, sapateia crioulo / bamboleia as cadeiras, mulata //…”
Deixa meu cabelo em paz
“Até lá na escola já não posso estudar / Com meu cabelo grande o diretor não deixa entrar / Deixa meu cabelo em paz , seu diretor / deixa meu cabelo em paz / / O pai da garota já não quer que eu namore mais / O motivo é o meu cabelo que está grande demais / Deixa meu cabelo… 2 x / Não corto meu cabelo de jeito nenhum vou cortar / Sou jovem, avançado estou na onda o que é que há / …”
Eu chorei
“Se eu chorei, o problema foi meu / se fiquei triste / tive minhas razões / Não vou reclamar /
Na onda do berimbau.
“Na onda do berimbau / Esquim dim dim / Esquin dim dim / Agitarei o carnaval / Esquim dim dim / Esquim dim dim / bate com a mão / que eu bato com o pé / Este samba virou candomblé”
A marca de um modo de ser leve, irreverente e, em certo sentido, ingênuo – embora tenham sido igualmente tempos terríveis, na medida em que tinham por trás o cenário do regime ditatorial, com seu autoritarismo e arrogância característicos, muita perseguição ideológica, tortura e morte não somente àqueles que buscavam resistir ao regime, lutando por um país melhor, mas a qualquer indivíduo que ousasse não dissimular suas opiniões críticas a respeito da situação do país, bem como a qualquer um que tivesse a desventura de vir a ser classificado pelos fiscais voluntários do regime como alguem esquisito, diferente, perigoso.
Retratações positivas de suas trajetórias, focalizando sem pejo talento, criatividade, personalidade e “homossexualidade” apenas muito recentemente se vem construindo o hábito de fazê-las – como de resto são feitas as de pessoas com práticas heterossexuais.
Órfão ou desconhecendo os pais, passou a infância por instituições asilares, de onde fugiu com aproximadamente treze anos, passando a viver nas ruas, onde foi “baleiro, engraxate e camelô, além de artista ambulante”, segundo uns e envolvido na marginalidade, segundo outros.
O contato com a marginalidade, durante a maior parte de sua adolescência, lhe possibilitou a aproximação com o mundo do samba e dos blocos fazendo aflorar seu talento e originalidade.
Era parte de seu estilo integrar roupas, palavras e adereços da cultura das religiões afrobrasileiras, assim como a esfuziante alegria que exibia em suas interpretações.
O registro constante do Memória da MPB, traz boas informações sobre sua trajetória e produção artística, mencionando, inclusive os prêmios que conquistou.
• Tá tudo aí! (1969), com The Pop’s
• Você me chamou (1971)
• Ai, que vontade (1978)
• Aquele abraço – O melhor de Oswaldo Nunes (coletânea)
“onze anos depois [de sua morte], a Justiça deu a sentença do espólio do cantor. Em testamento, o sambista deixou um apartamento e todos os seus direitos autorais para o Retiro dos Artistas, no Rio“.
– Gesto que não vemos ser praticado pela grande maioria das pessoas com práticas homossexuais no Brasil (ao contrário dos nacionais de países como os EUA), mesmo entre aquelas portadoras de maior escolaridade, informação cultural, consciência política.
Desfile do bloco Bafo da Onça, em 2011:
Horário: Terça, dia 20/2, às 20h
Concentração: Av. Rio Branco com Presidente Vargas Um dos mais tradicionais blocos de embalo do Rio, o Bafo da Onça, grande rival do Cacique de Ramos. O bloco sai cantando suas famosas músicas no último dia de carnaval pela Av. Rio Branco.
http://muzamusica.blogspot.com/2009/06/saudosas-bolachas-181971.html
http://www.mail-archive.com/tribuna@samba-choro.com.br/msg03970.html
http://www.lacumbuca.com/2008/06/oswaldo-nunes.html
http://www.bastaclicar.com.br/musica/biografia.asp?id_artista=439
http://memoriadampb.multiply.com/photos/album/205
http://loronix.blogspot.com/2006/10/oswaldo-nunes-pops-ta-tudo-ai-1969.html
http://www.youtube.com/watch?v=na6ymIUBJ5o&feature=related
http://letras.terra.com.br/osvaldo-nunes/