Para lembrar Evandro de Castro Lima (1920-1985)
Por Émerson Rossi*
A presença bajubá no carnaval é antiga, constituindo-se em um marco interpretativo na história de nossa população. Inúmeras vezes, foram a relativa “licença” fornecida pelos dias de Carnaval e os espaços de liberdade dele decorrentes que nos permitiram em outros tempos manifestar identificações, afetos subalternizados e o potencial criador de integrantes da nossa população. Nesse sentido, tivemos e ainda temos carnavalescos cuirs que entraram para a história dessa festa. Em janeiro, escrevi sobre Clóvis Bornay; agora, fecho este carnaval escrevendo sobre Evandro de Castro Lima.
Em janeiro de 2025, fez cento e cinco anos de seu nascimento; no último fevereiro, quarenta anos de sua morte no Rio de Janeiro. De uma família tradicional baiana, sua formação inicial foi em Direito. Como muitos de nós, ele migrou de sua cidade natal para a capital federal da época, o Rio de Janeiro, tendo passado por Buenos Aires, como integrante do centenário Teatro Colón. Como outros que homenageamos no Museu, antes ele também foi um multiartista – bailarino, figurinista e carnavalesco, ou seja, de vários modos um mestre das cenas.
Na busca por rastros de sua trajetória na Web, encontrei pouca coisa, principalmente se comparado a outros, mas duas me chamaram especial atenção para serem retomadas com vocês. Primeiramente, do ano passado (2024), os esforços do Grupo Gay da Bahia (GGB) em recuperar a memória de Evandro de Castro Lima na Bahia e sugerir que, como no Rio, haja um logradouro em seu nome. A segunda (sem data), uma extensa homenagem do portal Marccelus a Evandro. Com ela, podemos apreender alguns posicionamentos do artista em relação à dissidência sexual, algumas declarações de Evandro sobre si e também uma declaração de Clóvis Bornay sobre ele e a concorrência entre eles, que entrou para a nossa memória coletiva.
Por fim, como outros grandes nomes, Evandro é mais um dos nossos cuja contribuição para a nossa população esteve nos seus atos criativos e em viver sua subjetividade e desejo de modo afirmativo em tempos hostis. Outra de nossas personalidades históricas que precisa ser lembrada não só nos aniversários de vida e morte, ou durante o carnaval, mas em nossas agendas de pesquisa. Como nos mostrou a homenagem de Marccelus, as fontes para recuperar a trajetória de Evandro estão por aí a serem apuradas, sistematizadas e terem seus indícios seguidos em outros textos como este e além.
*Émerson Rossi é secretário de relacionamento e projetos do Museu Bajubá e coordenador da Estação São Paulo do museu.
Referências
BRAGG, Marccelus. Evandro de Castro Lima. Marccelus Portal, s/d. Disponível em: https://marccelus.com/evandro-de-castro-lima/. Acesso em: 5 mar. 2025.
LUXO E GLÓRIA do baiano Evandro de Castro Lima no Rio Maravilha. Portal Grupo Gay da Bahia, 22 mar. 2024. Disponível em: https://grupogaydabahia.com.br/luxo-e-gloria-do-baiano-evandro-de-castro-lima-no-rio-maravilha/. Acesso em: 5 mar. 2025.
WIKIPÉDIA. Evandro de Castro Lima. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Evandro_de_Castro_Lima. Acesso em: 5 mar. 2025.
Fotos:
1. Evandro Castro Lima, Carnaval do Rio de Janeiro, 1968 – Autor Geraldo Viola, Rio de Janeiro, Brasil – https://encurtador.com.br/ZJcDp
2. Evandro Castro Lima, 1970, Arquivo Nacional, Correio da Manhã – https://encurtador.com.br/NsSec
3. Evandro Castro Lima, Carnaval do Rio de Janeiro, 1983 – Autor Nicolau Drei, Rio de Janeiro, Brasil – https://encurtador.com.br/D5SUc
