Em 1º de outubro de 1971 estourava na imprensa de Belo Horizonte a notícia da tentativa de casamento de Pedro Paulo Figueiredo, 18 anos, costureiro desde os 14 anos e que gostava de ser chamado de Maísa Consuelo, com Maurício Jorge Pena, também de 18 anos. O chá de panela já havia acontecido em 4 de setembro. Os noivos previam realizar a cerimônia em 12 de outubro, na Igreja Católica Brasileira, no bairro Santa Mônica, em Belo Horizonte.

Cabe um rápido parêntese aqui: a Igreja Católica Brasileira é uma dissidência da Igreja Católica Apostólica Romana. Um de seus líderes foi o padre boliviano Luís Mário de Vilarroel Alarcón, que tinha fama de milagreiro e, ao mesmo tempo, embusteiro. Alarcón, naturalmente, negou a bênção aos noivos e a realização do casamento.

Pedro e Maurício namoravam havia três anos. Eles tinham o consentimento de suas mães para se casarem e as alianças já estavam prontas.

Quando a notícia ganhou a imprensa mineira e a nacional, o escândalo tomou o espaço. O jornal Cidade de Santos, de 3 de outubro daquele ano, divulgou: “A tradicional família mineira foi a primeira a se manifestar e disse que está pronta a sair às ruas com cartazes no sentido de pedir providências às autoridades contra os desmandos e a falta de decência.”

Surpreendentemente, o juiz de Menores José Pereira Queiroz “não se manifestou contra a ideia [de casamento] e afirmou que todos os seres humanos têm direito de serem felizes e ninguém tem direito de penetrar na sua vida particular”.

No mesmo dia 3 de outubro, foi noticiado também que Pedro Paulo recebera diversas ligações anônimas ameaçando-o de agressão caso tentasse levar adiante o plano de se casar.

De fato, o casamento não se realizou naquela igreja e os noivos não foram mais vistos no bairro onde moravam.

*Luiz Morando é co-fundador do Museu Bajubá, onde exerce a vice-presidência e a coordenação da Estação Belo Horizonte.