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Babados da hora

POR ONDE ANDA VOCÊ? – Os percursos do esforço de recuperação das memórias de setores estigmatizados

A ideia primeira deste blog era a de um espaço no qual as pessoas pudessem, elas próprias, construir os seus depoimentos, resgatando, com isso, a memória das lutas dos movimentos LGBTs.

Como dito na primeira postagem, essa concepção se aproximava do formato do museu da pessoa, porém privilegiando as pessoas que militaram nas primeiras fases.

Isso de devia em razão da constatação de que muitas pessoas da atual geração de ativistas pouco ou quase nada sabiam das primeiras lutas do movimento.

Essa ideia me surgiu a partir de conversas em lista de discussão do yahoo. Lista essa que congregava/congrega grande número de ativistas da atual geração e remanescentes da anterior.

Buscava, como dito, privilegiar o relato em primeira pessoa. Que as próprias personagens pudessem, elas próprias falar de sua experiência de militância, sem mediadores (sem alguem que as entrevistasse).

Nesse sentido, disparei convites para as principais ativistas conhecidas, das quais possuía contato – Que me lembro: Luiz Mott, Rosângela Castro, Yonne Lindgren, Míriam Martinho, além das meninas do Coturno de Vênus, de Brasília.

Dessas pessoas, apenas Míriam Martinho incorporou a proposta e passou a colaborar. Seu texto, porém, era diverso da proposta. Ao invés de um relato em primeira pessoa, trouxera um relato jornalístico. Fez o atual lay out do blog, inscreveu o mesmo em um programa de contagem de acessos – sem porém incluir o meu e-mail, as informações indo exlcusivamente ao seu e-mail.

Num determinado momento, porém, divergências de caráter ideológico passaram a produzir ruídos em nossa relação, eu pensando tivéssemos uma amizade. A coisa toda seguiu num esgarçamento e terminei por retirá-la deste blog, enviando-lhe um e-mail informativo e esclarecendo que, se acaso desejasse retirar os seus textos do blog, era só informar.

Cancelei a sua colaboração no blog porque percebi que passara a trazer para cá, o tom de picuinha pessoal que havia imprimido, na lista, às divergências ideológicas que existem entre nós e estavam a se acirrar – seja por conta de sua leitura da atitude do governo brasileiro em relação a Honduras, seja por conta de sua opinião a respeito da importância histórica do PT e do Lula, além de sua leitura sobre a necessidade que a sociedade brasileira tem de resgatar a verdade sobre os desaparecidos políticos do regime militar.

Ela optou por retirar os seus textos, o que fiz. Saiu magoada, desqualificando este espaço, solicitando inclusive que o seu nome não aparecesse em nenhum lugar deste blog. Eu, de minha parte, achei infantilidade e um certo viés projetivo esse seu comportamento e lhe disse em e-mail privado. Quase dois meses depois ela, apropriando-se de minha foto no orkut, fez uma postagem no seu blog. Ali, ela me acusa de censora, promove acusações, desqualifica-me a mim enquanto pessoa e enquanto profissional, além de (uma vez mais) a importância deste trabalho. Aliado ao texto, utiliza-se de u’a foto de meu rosto, retirada à minha revelia do Orkut, que manipula sobre um Napoleão – formando um conjunto bem simpático, diga-se de passagem. Curiosamente, entretanto, apesar de seu rogo de total e completa supressão de inclusive seu nome deste espaço, o seu perfil na Wikipédia segue fazendo referência à sua pessoa como vinculada a este blog e seu projeto: “num sentido mais amplo, ela [Míriam Martinho] também é contribuinte do projeto de recuperação da Memória/História MHB-MLGBT[10]” (a última alteração de seu perfil na Wikipédia data de 25 de fevereiro de 2010; a comunicação da retirada de seu nome da qualidade de colaboradores deste blog se deu em 28 de janeiro; e a publicação do texto acusando-me de censora, em 18 de março de 2010).

Quanto ao acervo de histórias aqui registradas, também eu passei a incorporar o mesmo estilo impessoal, jornalístico, dado que ninguem mais apoiara a iniciativa em sua ideia original do depoimento em primeira pessoa (dentro da qual, aliás, não me cabia escrever nada, apenas gerenciar o blog). As moças do Coturno de Vênus, até onde eu sei, com um belo trabalho em Brasília, jamais decidiram se pronunciar, apesar de terem estado inscritas e com livre direito de postagem e administração tanto quanto Míriam.

Cada uma dessas pessoas sabe bem os motivos pelos quais decidiu, embora convidada, não participar deste projeto. Não tenho como falar por elas, fazer exercícios imaginativos… Não tenho com elas – com nenhuma delas – relação de caráter pessoal. Minha proposta e convite tem objetivo de caráter social e político.

Mais recentemente, ainda na mesma listagls, uma ativista expressou o desejo de colaborar neste projeto. Trata-se da jornalista Daniela Novais, da Bahia, participante de um belo projeto de visibilidade e protagonismo das lésbicas naquele estado. Ela está inscrita. Eu, pessoalmente, aguardo que algum dia (em breve) ela se decida por trazer a sua colaboração.

Eu, pessoalmente, continuo acreditando que o registro e a divulgação dessas memórias e histórias são importantes, não apenas para militantes, mas para toda a comunidade de gays, lésbicas, travestis, transexuais, intersex, bissexuais. Principalmente em um país como o nosso, onde as pesquisas acadêmicas no campo da história ainda são incipientes, principalemente se comparadas com países como Espanha, França, Estados Unidos, Méxiico, Argentina. Sem falar na enorme penetração que podem obter os textos virtuais em veículos de divulgação popular, se comparados com aqueles de produção acadêmica.

Temos um passado e uma história. Entretanto, não os conhecemos. E, com isso, sem passado, sem protagonismo, ficamos à mercê de leituras meramente vitimistas. Temos resistência – e muita. Temos inventividade, protagonismo. Precisamos, porém, recuperá-los e divulgá-los.

Isso, no entanto, não se faz sozinho. Não é trabalho de uma pessoa individualmente. É de todas! Cada uma com a sua parte, com a sua parcela de memória, documentos, fotos etc. Com generosidade e disposição para a remontagem desse enorme quebracabeças.

Trata-se de uma população de vastíssima diversidade. Só no segmento transgênero, que envolve travestis e transexuais, essa diversidade não é apenas ampla, mas, sobretudo, complexa. Desse coletivo específico, eu, inclusive, ainda sei muito pouco. Conto e muito com a colaboração das pessoas com as quais entro em contato e que se dispõem a colaborar, me orientar, esclarecer, com paciência e generosidade. – Para mim, é um universo totalmente novo e rico; muito, muito rico em termos de experiência humana. Dele sobretudo admiro a sua capacidade de resistência e inventividade – a capacidade de lutar pela vida, com ousada criatividade e, muitas vezes, enorme e ácido humor.

Daí vem a minha insistente solicitação para que as pessoas se decidam a tomar em suas mãos a recuperação dessa história que, sobretudo, lhes pertence. E que não se restringe ou resume absolutamente a este espaço!

– Por que estou dizendo tudo isso hoje? Bem, porque acabo de falar com alguem que, com muita generosidade, decidiu compartilhar a parte que sabe, viveu e se recorda da história de Brenda Lee/Caetana, suas casas de pensão (hospedagem) e o seu trabalho social com os primeiros acometidos dos HIV – naqueles tempos em que era fatal, com morte em torno de dois meses. E, na busca por complementação das histórias, me dei conta de que havia “perdido” uma outra informante. Uma pessoa que me pareceu extremamente sensível, generosa, meiga, solidária. Não sei o que se passou. Não faço ideia. Sei apenas que me preocupo com ela; desejo do mais fundo de meu coração que esteja bem.

As vezes, no trabalho de história oral, a g
ente termina por fazer nossxs colaboradorxs se por em contato com memórias densas, intensas, dolorosas. Nem sempre a gente possui os meios necessários para auxiliar no trabalho de processamento desse caudal de emoções.

Aqui apenas posso dizer do meu imenso respeito por todas as pessoas que vem me auxiliando, permitindo que eu tenha acesso às memórias de suas trajetórias, suas experiências de vida, seus reinventar identidades, percursos, destinos; partilhando comigo e com as pessoas que acessam este blog experiências que, embora nem sempre decantadamente alegres, são sempre vigorosas em termos de tenacidade para a luta e fazem parte desse fazer cotidiano da História – da nossa História.

A todas elas o meu tributo – o meu respeito maior, admiração, carinho. E, ainda uma vez mais, a solicitação de que tomem em suas mãos não apenas o fazer histórico,, pois isto já fazem de há anos! Mas, tambem, o registro, o relato dessa mesma história que com tanta propriedade sabem tecer em seus dias.

Referências:

[10] Memória/História MHB-MLGBT: Espaço para recuperação, registro e divulgação das memórias e história dos ativismos, sociabilidades e culturas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.

Ver em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Míriam_Martinho
http://contraocorodoscontentes.blogspot.com/2010/03/pequena-censora.html

(2018; 2035)

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