Reflexões para um Dia da Afirmação Gay – 28 de fevereiro

Por Émerson Rossi*

         Quando buscamos pela data de 28 de fevereiro como Dia da Afirmação Gay os resultados nos levam a quatro anos atrás para um anúncio feito pelo antropólogo Luiz Mott, figura emblemática do movimento LGBTI+, divulgado por nossa imprensa gay. Nessas notícias, a data remonta à fundação do Grupo Gay da Bahia (GGB), liderado por muito tempo por Mott (atualmente, seu presidente de honra), e a atitude de afirmação homossexual preconizada pelo grupo Somos, na primeira onda do movimento social. Esta data é mais um motivo para celebrarmos, mas também para refletirmos sobre os rumos que tomamos ao longo da História e tomaremos no presente.

         Serve para celebrarmos que ainda estamos aqui, fazendo festas, paradas; criando arte e outras práticas culturais; amando; divertindo-se; pulando carnaval – ele que é tão especial na história da nossa comunidade –; fazendo negócios e fazendo História, apesar de todas as tentativas de falsa cura, as falsas acusações, a transformação em inimigos das velhas tradições (heterocentradas) e todo o pânico moral produzido em torno disso. Ah!, claro, apesar ainda de todas as outras formas de homofobia que ainda estão por aí, seja na forma de gíria como “Lá ele”; memes envolvendo nossa bandeira; comentários prenunciando nossa ida ao inferno; nojo de nossos afetos; aversão às famílias homoparentais que estão funcionando bem e a própria violência letal.

         A atitude de afirmação gay foi e ainda é um recurso importante para combater o silenciamento e a invisibilidade do desejo, do afeto e do estilo de vida dissidente da heterossexualidade compulsória, que é presumida e incutida nas pessoas desde tenra idade. Com a afirmação homossexual, fortalecemos a subjetividade por um lado e a identidade coletiva por outro, resistindo à marginalização e ao cerceamento da liberdade que ainda nos espera à espreita em lugares públicos e privados (materiais ou imateriais) na medida em que atitudes neofascistas vão sendo retomadas pela extrema-direita e por seus cúmplices no espaço social.

         Entretanto, só ela não basta. É preciso que a identificação pessoal e a afirmação venham acompanhadas de sentimentos de pertencimento e fraternidade e um alinhamento que poucos temos por inúmeras razões – pessoais, sociais, de interesse e mesmo teóricas. É preciso, nesta sociedade de risco, que o ataque a um dos nossos seja mais que outro caso na estatística. É preciso que as dores e os lutos sejam partilhados. É preciso que o orgulho seja nosso; que a consciência seja nossa, para além dos incríveis intelectuais que temos há décadas; que sejam compartilhados mais que o desejo, o afeto e o estilo de vida, ou poderá acontecer a nós o que tem ocorrido aos nossos semelhantes em outras partes do globo – da perda de direitos e status social ao aumento do risco de extermínio.

 

*Émerson Rossi é secretário de relacionamento e projetos do Museu Bajubá e coordenador da Estação São Paulo do museu.

Fotos:

1. Parada do Orgulho LGBT • 25-06-2017 • Brasília (DF) – https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parada_do_Orgulho_LGBT_%E2%80%A2_25-06-2017_%E2%80%A2_Bras%C3%ADlia_(DF)_(34720221314).jpg – Autor: midianinja

2. Parada Gay – Bauru – https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Parada_Gay_-_Bauru_(4946459957).jpg – Autor: Ling Wang Marina

3. Faixa homofobia basta – https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Faixa_homofobia_basta.jpg – Autor: MaurícioGG

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