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Babados da hora

Virgínia Figueiredo: lésbica de muitas lutas

(Atualização: 14/08/20, às 21h28)

Virgínia Figueiredo, 61 anos, é talvez dentre as ativistas lésbicas históricas a de maior curriculum de ações e atividades. Desde a adolescência se acostumou às ações políticas. Uma de suas marcas é a participação em todas as lutas sociais, numa capacidade de integração invejável.

Moção de Louvor pela luta, 08/08/2019
Vereador Tarcício Motta e Ivanete Silva

Em março de 2013 ela elaborou essa pequena biografia. Estão de fora muitas de suas participações  igualmente importantes, nas mais diversas lutas. Mas já dá pra ter uma ideia de sua importância na história, não apenas do movimento lésbico, mas de todos os segmentos vulneráveis.

Por meio dela homenageamos a todas as mulheres que amam mulheres e lutaram e lutam pelo direito a uma vida livre de discriminação e preconceito – quer se identifiquem como mulher-homem, mulher-homem, fanchona, pitombeira, entendida, lésbicasapatão, sapata, sapa, caminhoneira, quer se identifiquem apenas e simplesmente como mulheres, com todas as suas diferenças e peculiaridades (sim, porque aqui, a nossa perspectiva é a de que as identidades sexuais são apenas ferramentas políticas na luta por uma sociedade onde a gente possa amar a quem quiser, sem binarismos, mas, tambem e principalmente, sem reinventar novas caixinhas e achar que as identidades são alguma coisa além do que construções culturais, portanto, históricas).

Em 1977, no ensino médio (científico), formamos um grupo para mudar as regras do colégio. Ocupamos uma sala e fazíamos reuniões, estudos e atividades culturais. Em 1979 fui apresentada ao movimento pró-trabalhador (hoje PT); nos anos 80 entrei no movimento sindical. Entre 1983 e 1984 participei das manifestações pelas Diretas Já. Em 1986 integrei o grupo de discussão sobre a homossexualidade PT/RJ. Esse mesmo grupo discutiu políticas públicas para contribuir no processo de elaboração da Constituição, aprovada em 1988. Em 1992 me aproximei do setorial de mulheres do PT.

Ocupa Sapatão 2017

No começo de 1993 conheci o GAPA, na Tijuca, para entender a epidemia que estava matando meus amigos (AIDS) e no final de 1993 me aproximei do Grupo Arco-Íris, do qual e saí no final de 1995. Estive na coordenação da 17ª Conferência internacional da ILGA (International Lesbian and Gay Association), que aconteceu no Rio de Janeiro em 1995 e foi um marco para o movimento LGBT, dando início às paradas* pelo Brasil afora. Desde então passei pelo COLERJ (Coletivo de Lésbicas do RJ), dei formação para as lésbicas do Grupo Atobá e do Grupo 28 de Junho.

Em 1993 entrei para a CUT (Central Única do Trabalhador) e, em 1997,  fui a primeira lésbica a formar a CEMTCUT/RJ (Comissão Estadual de Mulheres Trabalhadoras da CUT). Nessa ocasião já atuava com outros movimentos sociais e populares para levar as questões lgbt’s.

Em 1996 fui a 1ª candidata à vereadora pelo PT assumidamente lésbica no Brasil. E em 1999 fiz parte da coordenação nacional de mulheres do PT. Fui a primeira lésbica na Marcha Mundial de Mulheres/RJ; fui a primeira lésbica da comitiva do Rio de Janeiro a participar da Marcha das Margaridas, em Brasília;  fui primeira lésbica a estar no setorial de mulheres da CMP/RJ (Central de Movimento Popular).

Plataforma eleitoral

Levei as especificidades dos lgbt’s pra União de Moradia Popular; apoiei invasões do movimento dos sem teto e contra as privatizações. Sempre fui aliada dos movimentos de: negros, meio-ambiente, cultura, mulheres da periferia e comunidades, travesti e transexual, direitos humanos, população carcerária, MST, entre outros. De 2001 a 2005 participei de duas coordenações nacional do setorial do PT. Também fui da primeira coordenação nacional da CMP. 

2a. Parada do Orgulho*, 1997, Copacabana

Já passei pelos movimentos: da não redução da idade penal; pelos direitos de menores e adolescentes moradores de rua em risco social; do grupo de redução de danos; do comitê pró-aborto; da legalização da maconha; da educação e saúde gratuita e de qualidade; por um Brasil laico. Já me expus na mídia: escrita (aqui, aqui, aquiaqui), falada e televisionada; participei de vários fóruns, conferências, congressos, assembléias, debates, encontros, plenárias, reuniões, grupos de trabalho de diversas temáticas – inclusive do primeiro grupo em Brasília do qual está aí a Frente Parlamentar e o Brasil sem Homofobia.

Em 2003, no Rio Grande do Sul, fui uma das fundadoras da LBL – Liga Brasileira de Lésbicas (da qual atualmente estou articuladora nacional). Nesse mesmo ano de 2003 participei, em São Paulo, da primeira Caminhada Lésbica…  Participei de várias caminhadas e paradas gays e caminhadas lésbicas, pelo Brasil afora, como também participei dos Senales (Seminário Nacional de Lésbicas). Sou uma das fundadoras do Fórum de Lésbicas RJ e da primeira caminhada Lésbica do RJ/2009. Sai do PT no final de 2005 e me aproximei do psol em 2008. Não sou acadêmica, mas como venho do movimento popular, a minha frase é: “não fale de e por nós, sem nós”.

Ver ainda: aqui  aqui, aqui

Sessão Câmara Vereadores, 16/05/2017. Foto do Portal Geledés

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Hoje, 14/08/20, Virgínia fez um adendo a respeito do tema caminhadas, marchas e paradas do movimento (década de 1990), sobre o qual ainda pairam muitas controvérsias – fato comum em movimentos sociais. São as suas memórias. Aquilo que ela se recorda. Não há, portanto, qualquer interesse em disputar verdades. Apenas trazer um relato, u’a memória, para ser cotejada juntamente com as demais, no intuito de colaborar para a construção dessa história. 
Há imprecisão, no interior dos movimentos, no uso dos termos “caminhada”, “marcha”, “parada”. Também aqui não é nosso interesse elucidar ou contestar essa imprecisão e disputas. 

A primeira Parada de São Paulo foi em 1997, mas não do Brasil. Do Brasil foi no Rio de Janeiro [, em 1996]. Em 1995 a gente fez essa Caminhada, por conta da ILGA [17ª  Conferência internacional da International Lesbian and Gay Association]


Em 1996 foi a [Primeira] Parada, [dita como a] oficial. Entre os ativistas do Rio de Janeiro não se costuma contar a caminhada que se seguiu ao encerramento da Conferência da ILGA como Parada, embora a sua representatividade e relativamente grande participação; ela é referida usualmente como Caminhada. Após o encerramento da conferência da ILGA, saímos todos do hotel, em Copacabana, e fomos para a rua. E os outros movimentos [de outros estados e internacionais] que estavam participando da ILGA souberam que a gente ia fazer esse ato final e se somaram conosco.  Chegamos a colocar na rua aproximadamente umas mil pessoas…


Em 1996, em São Paulo, teve também a Marcha [paulista]. Nós saímos do Encontro Nacional GLBT, realizado no Hotel San Rafael, no Largo do Arouche, atravessamos, caminhamos e fomos parar… Não lembro se na Câmara de Vereadores ou na Assembleia Legislativa… [Virgínia localizou u’a matéria que esclarece ter sido na Praça Roosevelt. Veja aqui]. Onde fizemos uma manifestação, para marcar o evento; o que estávamos fazendo ali… Porque o poder público não deu nenhuma atenção.– Foi uma grande caminhada! Lógico, um número [de participantes] bem menor do que foi no encerramento da ILGA, aqui [no Rio de Janeiro. Principalmente porque no Rio se seguiu a um evento internacional, com um número bem maior de participantes]. Aí, depois dessa primeira caminhada em São Paulo, em 1997 teve a primeira Parada Gay ]de São Paulo].

Então, a primeira Parada, foi no Rio de Janeiro, em 1996.
Nos outros lugares teve Caminhada… Por exemplo, em Curitiba, assim que foi fundada a ABGLT, em 1993, o povo saiu pelas ruas caminhando. Com bandeiras, com isso e aquilo… Nada organizado, sem trio elétrico… Como foi a primeira Caminhada daqui do Rio [1995, final da ILGA] e em São Paulo [1996, final do EBHO].”

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