Para lembrar Clóvis Bornay e sua coleção
Por Émerson Rossi*
Clóvis Bornay nasceu há 109 anos em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Durante sua vida foi museólogo e carnavalesco. Conforme a homenagem de 106 anos, além disso, “foi compositor e intérprete, atuou nos filmes Independência ou morte (72) e Terra em Transe (67), foi jurado de programas de TV e guardião da renovação do manto de Nossa Senhora da Glória, na igreja do Outeiro, no bairro do mesmo nome”. Este ano seu falecimento completará 20 anos.
Na museologia, ele trabalhou em sua alma mater Museu Histórico Nacional, onde segundo Chagas (2016, p. 4), ele estudou de 1944 a 1946. No carnaval, segundo informações do Museu da Histórico da Cidade do Rio de Janeiro em escolas de samba históricas, como Salgueiro, Mocidade Independente de Padre Miguel e Unidos da Tijuca. As majestosas criações de carnaval e de si estão acessivelmente lembradas na página “Clóvis Bornay Vive” no Facebook. Página que compartilha imagens e informações sobre o artista administrada por uma de suas filhas, Tainá Bornay. Brincando com nome da mídia social, um verdadeiro álbum público de Bornay.
Ano passado, a página recuperou uma capa da Veja Rio (Fev. 2018), comemorativa do aniversário da cidade, que menciona o artista como uma das personalidades a quem ser grato pelo bem que fizeram à cidade. Lembrado pelo ator Luis Lobianco está Bornay, como a “personificação do carnaval” e alguém que “afirmou o espírito irreverente como a maior beleza da cidade [do Rio] ao transcender o luxo com suas fantasias”.
As fantasias fazem parte da coleção do Museu Histórico do Rio de Janeiro e algumas podem ser vistas na exposição virtual sobre a cidade, na seção do século XX, como também um busto dele, feito quase como um autorretrato. Infelizmente, faltam informações ao público sobre a trajetória das peças de Bornay, pois o Museu Histórico limitou-se ao essencial sobre ele. Em relação às fantasias, a historiadora Rita Colaço escreveu na homenagem aos 106 anos dele: “Hors concours nos concursos de fantasias, fazia delas uma forma de divulgação do conhecimento histórico, encantando gerações”.
Clóvis Bornay viu alguns dos tempos mais difíceis das sexualidades dissidentes no Brasil – os tempos de desvio, de patologização e de repressão ditatorial, mas viu também os tempos de alguma distensão e inegavelmente sua visibilidade na televisão brasileira foi importante para mostrar que “ainda estamos aqui” em épocas muito menos favoráveis às pessoas LGBTs. Rita Colaço também conta-nos em um dos seus blogues que Bornay “se mostrou dotado do sentido de compromisso cívico – em 2004 registra-se a sua participação, à pé, como um anônimo qualquer, à Parada do Orgulho LGBT em Copacabana”.
Por fim, nesta data querida, este artista bajubá e o seu legado formam uma questão em aberto na história cultural das pessoas LGBTs brasileiras, um estranho familiar a ser mais conhecido e mais reconhecido, principalmente pelas novas gerações que não o viram brilhar em seus tempos áureos.
Veja também a primeira homenagem do Museu Bajubá a Clóvis Bornay aqui: https://museubajuba.org/clovis-bornay-10-01-1916-09-10-2005/
*Émerson Rossi é secretário de relacionamento e projetos do Museu Bajubá e coordenador da Estação São Paulo do museu.
Fontes:
BORNAY, Tainá. Clóvis Bornay – Vive. Disponível em: <https://www.facebook.com/Clovisbornayvive/?locale=pt_BR>. Acesso em: 10 jan. 2025.
CHAGAS, Mário de Souza. Clóvis Bornay: o profissional e o personagem. Revista Memória LGBT, [S. l.], v. 4, n. 02, p. 4–5, 2015. Disponível em: https://revista.memoriaslgbt.com/index.php/ojs/article/view/30. Acesso em: 8 jan. 2025.
COLAÇO, Rita e MUSEU BAJUBÁ. Clóvis Bornay (10.01.1916 – 09.10.2005). Disponível em: <https://museubajuba.org/clovis-bornay-10-01-1916-09-10-2005/>. Acesso em: 10 jan. 2025.
COLAÇO, Rita. Orgulho de ser Clóvis, Bornay, gay. Disponível em: <https://comerdematula.blogspot.com/2010/01/orgulho-de-ser-clovis-bornay-gay.html>. Acesso em: 10 jan. 2025.
MUSEU HISTÓRICO DA CIDADE. A Coleção. Disponível em: https://www.museudacidadedorio.com.br/pt/a–colecao/c/a-partir-do-sec-xx , acesso em: 8 jan. 2025.
VEJA RIO. 50 cariocas agradecem a ícones que fizeram do Rio um lugar melhor. Disponível em: <https://vejario.abril.com.br/cidade/50-cariocas-agradecem-a-icones-que-fizeram-do-rio-um-lugar-melhor>. Acesso em: 10 jan. 2025.
Fotografias:
1- Rev. Manchete, 24-03-84, Acervo Museu Bajubá – Homenagem à Nijinski, hors concours
2- Rev. Manchete, 1970 – Acervo Biblioteca Nacional
3- Rev. Manchete, fev 1957 – Acervo Museu Bajubá – Fausto
